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Biden: o velho/novo imperialismo no Oriente Médio

por Bárbara Caramuru

No sábado, 7 de novembro, Joe Biden foi oficialmente eleito como presidente dos Estados Unidos da América (EUA). O candidato do partido Democrata foi eleito contra o então presidente, membro do partido Republicano, Donald Trump.
 
Durante toda a semana, a repercussão das eleições, mais especificamente da apuração dos votos, no centro capitalista do mundo tomaram conta da internet. “Memes” e notícias sobre ambos os candidatos e a acirrada disputa pelos votos foram temas centrais em diversos países do mundo. No Brasil, reconhecido pela infeliz fama de “o quintal dos EUA”, não foi diferente. As sátiras e notícias polêmicas em torno de Trump são bem conhecidas, já que o presidente é o tipo bilionário excêntrico, racista, machista e homofóbico, autor de inúmeras políticas discriminatórias e xenofóbicas. O atual presidente dos EUA foi, inclusive, um dos principais responsáveis pela ação contra mulheres latinas oriundas do México nas fronteiras do país. Esterilização forçada, separação de famílias e encarceramento de crianças imigrantes em grades, mais parecidas com jaulas, foram notícia ao longo de seu governo.
 
Já Biden, reunia várias sátiras em forma de “memes” em relação a sua postura progressista no âmbito das propostas de políticas raciais e de gênero, mas a manutenção da política externa ofensiva, belicosa. Não faltaram críticas à postura do candidato, agora eleito novo presidente. A candidata eleita a vice-presidente, Kamala Harris, filha de imigrantes de origem indiana e jamaicana, mulher, negra, simboliza a interseccionalidade de muitas pautas levantadas pelos movimentos sociais e instrumentalizadas pelo partido Democrata. Entretanto, a crítica ao conjunto da candidatura, Biden e Harris, é a limitação, naquilo que se refere à representatividade de pessoas negras, latinas, mulheres, LGBTQI e demais minorias ao âmbito da efetivação do simbólico, remanescendo similares as políticas ofensivas “civilizatórias”, sejam elas econômicas ou bélicas.
 
No que tange às “intervenções” ou melhor, à guerra dos EUA a determinados países do Oriente Médio, as coisas não devem se modificar tanto. “Joe Biden tentará reconectar a política dos EUA para o Oriente Médio de volta como deixou o presidente Barack Obama [...]”, “o resultado também muda drasticamente a abordagem dos EUA no conflito israelense-palestino”, “mas não haverá reviravolta completa”, afirma a notícia veiculada pela BBC News Brasil. 
 
A pergunta é: o que muda? Não devemos esquecer que Barack Obama foi o presidente que liderou a conhecida “Guerra dos drones”. “Em oito anos, ele autorizou ao menos 526 ataques aéreos com drones em regiões que não estavam em situação de guerra ou conflito armado (os dados oficiais não contemplam os últimos 20 dias de governo)." Embora o uso de drones armados tenha iniciado com George W. Bush, teve seu auge durante o governo de Obama.  Notícias afirmam que em seu governo, o partido Democrata não esteve um só dia sem estar em guerra.  
 
 Biden atuou como vice-presidente de Obama durante seus dois mandatos, entre 20 de janeiro de 2009 e 20 de janeiro de 2017. Com longa carreira política, Biden é reconhecidamente um “amigo de Israel”, como afirmou o primeiro ministro Benjamin Netanyahu, após a vitória do candidato.  Historicamente, os Estados Unidos se consolidaram como um dos principais aliados da política sionista de ocupação da Palestina. Desde a partilha do território palestino realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1947, distintos governos norte-americanos têm realizado sucessivas intervenções na região, muitas delas de cortina diplomática, promovendo a oficialização da ocupação ilegal israelense. Distintas propostas externas para a região desconsideram, na maior parte das vezes, o posicionamento dos palestinos sobre a questão e, na prática, reiteram a ocupação israelense, de caráter colonialista, a qual avança e promove novos assentamentos de colonos judeus em terras palestinas. O “amigo de Israel”, por sua vez, parece ter tudo para manter as políticas de apoio à potência colonialista ocupante do território, como sinalizou Netanyahu, o qual afirmou estar ansioso para “trabalhar” com Biden e Kamala e “fortalecer ainda mais a aliança especial entre os EUA e Israel”. 
 
A respeito do polêmico “Acordo do século” orquestrado por Donald Trump, nos anos recentes, nomeado por palestinos como “A catástrofe do século”, Biden já apontou que não pretende fazer a retirada da embaixada do Estados Unidos transferida por Trump de Tel Aviv para Jerusalém. Tal movimento de transferência busca naturalizar e legitimar a ocupação israelense das terras palestinas. Quanto aos assentamentos e ao plano de anexação, embora o posicionamento do candidato eleito afirme uma possível ruptura na expansão dos assentamentos – ou pelo menos na oficialização e publicização da ocupação ilegal do território palestino –, há uma nítida tendência à manutenção da tentativa de “normalização” das relações de Israel com os demais países árabes de forma a enfraquecer e isolar a resistência palestina.
 
O que podemos levar disso? Dois pontos são cruciais nesta discussão. Primeiro, o redirecionamento da política interna dos EUA para o centro ou, na perspectiva interna do país, centro-esquerda, não muda a conduta intervencionista e belicosa quando se trata de política externa – uma política de guerra historicamente direcionada aos “outros” não-brancos, bem como aos países do Oriente Médio. Em segundo, diferenças essencialmente importantes à parte, nem Obama nem Trump cessaram o intervencionismo norte-americano e, provavelmente, Biden tampouco o fará. Como reiterou Biden ao final de seu primeiro discurso: “que deus abençoe a América, que deus proteja nossas tropas”. 
 
Por fim, esta eleição resumiu-se à uma torcida pela derrota de Trump, sem vitória alguma. A insucesso do republicano, sem dúvida, é uma fratura no fascismo nos EUA e em sua zona de influência. Na perspectiva do Brasil, como território importante do imperialismo estadunidense, a diferença entre Trump e Biden se relaciona mais ao asfixiamento de Bolsonaro do que a qualquer possibilidade de enfraquecimento da dependência ou de aumento da soberania nacional. Cumpre lembrar que os golpes de Estado brasileiros se deram em governos do partido Democrata (Lyndon B. Jonhson e Barack Obama).  
 
Para a política no Oriente Médio, a situação tende a manter-se ou agravar-se, já que, segundo Biden, Trump teria “traído os americanos” ao retirar as tropas estadunidenses da Síria . O domínio da Palestina é estratégico para a manutenção do controle internacional da região. Isto é, a manutenção da política bélica no Oriente Médio, bem como do território palestino é compatível com a conservação da hegemonia econômica estadunidense. 

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