Desconstruindo a Hegemonia Sionista: Da Definição de Antissemitismo à Consolidação do Colonialismo de Colonos

Conceito do "antissemitismo" transformou-se em uma ferramenta repressiva nas mãos da propaganda sionista
No meio da batalha pela consciência global, o sistema sionista não se contentou em ocupar a terra e expulsar a população nativa. Foi além, ocupando conceitos e distorcendo a linguagem, transformando a verdade em acusação, a resistência em terrorismo e a crítica em "antissemitismo". Por isso, redefinir conceitos torna-se uma necessidade existencial na luta dos povos colonizados — com destaque para o povo palestino — que há mais de um século trava uma dupla batalha: a da libertação da terra e a da libertação do significado.
Desde que foi adotada a chamada definição da "Aliança Internacional para a Memória do Holocausto" (IHRA) sobre antissemitismo, esse conceito transformou-se em uma ferramenta repressiva nas mãos da propaganda sionista. De acordo com os exemplos incluídos nessa definição, descrever Israel como um projeto racista ou colonial já é, por si só, considerado "antissemitismo" — mesmo que não contenha qualquer crítica aos judeus enquanto religião ou povo. Trata-se de uma fórmula legal sutil, cujo objetivo é deslegitimar qualquer discurso crítico ou acadêmico que revele a verdade sobre o projeto sionista, sufocando assim a liberdade de expressão, a liberdade de pesquisa e a liberdade acadêmica, como apontou o historiador judeu-americano Joel Beinin em seu artigo.
No contexto da expansão imperial ocidental, que continua a reproduzir ferramentas coloniais em formatos mais suaves, a proteção do projeto sionista torna-se uma prioridade estratégica, criminalizando todos que o abordem por meio de análises estruturais — especialmente sob o prisma do "colonialismo de colonos". Esse é precisamente o caso de Israel, que — como já indicava Fayez Sayegh desde 1965 — representa um modelo completo de sociedade colonial racista, sustentada inicialmente pelo imperialismo britânico e posteriormente pelo americano.
O conceito de "antissemitismo" tem sido utilizado não para proteger os judeus da discriminação racial, como alegam, mas sim para blindar o projeto sionista contra críticas e justificar seus crimes contra os palestinos. Assim, a definição da IHRA se converte em uma arma estratégica na batalha pela narrativa. Instituições ocidentais de peso — universidades, centros de pesquisa e plataformas de mídia — passaram a se submeter à chantagem moral sionista: ou permanecem em silêncio, ou enfrentam acusações pré-fabricadas.
Beinin, professor de história na Universidade de Stanford, acredita que a adoção dessa definição nos Estados Unidos obrigará os pesquisadores a evitar descrever Israel como um regime de apartheid e a não expor as leis discriminatórias — mais de 60, segundo organizações como B’Tselem e Human Rights Watch — que consolidam a dominação dos judeus sobre os não judeus nos territórios ocupados.
A atitude de Beinin e de outros acadêmicos ao violar deliberadamente essa definição é um passo simbólico para romper o muro do medo nas universidades ocidentais. Mas também serve como um lembrete de que a batalha não é apenas territorial — ela é também linguística e intelectual. Enquanto o sionismo conseguir criminalizar a memória e transformar críticos em “antissemitas”, o enfrentamento estará incompleto sem a desconstrução desse regime linguístico colonial.
Theodor Herzl, fundador do sionismo moderno, utilizou uma linguagem colonial explícita em suas cartas a políticos europeus. Jamais escondeu que seu projeto era uma barreira europeia contra a "barbárie asiática", refletindo a relação orgânica entre o projeto sionista e o sistema ocidental — como uma extensão colonial no coração da região.
Desconstruir o discurso da IHRA não significa negar o antissemitismo como fenômeno histórico, mas sim rejeitar seu uso como escudo político para cometer massacres e como ferramenta de demonização contra quem se solidariza com a Palestina. O verdadeiro antissemitismo não está em quem critica as políticas de ocupação, mas em quem esvazia esse termo de seu conteúdo ético para servir a uma entidade racista que pratica o extermínio.
A luta pela libertação da Palestina passa, inevitavelmente, pela libertação dos conceitos e pela recusa aos tribunais da inquisição moderna, que julgam intenções, silenciam vozes e criminalizam o pensamento crítico. Assim como o palestino enfrentou batalhas com pedras e fuzis, hoje deve travar a batalha das palavras e dos significados — para redefinir a resistência, restaurar o sentido da justiça e despojar o inimigo de uma legitimidade falsa, construída sobre a cumplicidade da história e a duplicidade de critérios.
DEIXE SEU COMENTÁRIO