Estudantes da USP repudiam curso que trata conflito palestino-israelense sob ótica sionista
Nota criticando a realização do curso foi divulgada em uma rede social
Por Lúcia Rodrigues
Estudantes da USP (Universidade de São Paulo) solidários à causa palestina divulgaram um manifesto em uma rede social criticando a realização de um curso que vai abordar o conflito palestino-israelense sob a ótica sionista.
O curso em questão é oferecido pelo Centro de Estudos Judaicos e promovido pelo Departamento de Letras da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP e vai ocorrer no campus Butantã.
Em seu sítio na internet, a USP informa que o curso “Para entender o Oriente Médio e o conflito israelo-palestino” é coordenado pelo Prof. Dr. Gabriel Steinberg Schvartzman, da FFLCH, e que será ministrado por Samuel Feldberg, doutor em Ciência Política pela mesma faculdade.
O lattes de Feldberg aponta que ele é professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e das Faculdades Integradas Rio Branco e que é professor convidado do curso de pós-graduação do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da USP.
O curso “Para entender o Oriente Médio e o conflito israelo-palestino” é pago e está previsto para ocorrer entre os dias 4 e 30 de outubro, às terças e quintas, das 14h às 16h.
Alunos de Letras da graduação e pós-graduação são o público alvo, além de professores da rede pública de ensino.
O objetivo do curso não deixa dúvida sobre o teor que será abordado em sala de aula. A ementa é clara ao assumir que o lado israelense foi o que deu certo.
“O curso tem como objetivo fornecer uma visão do conflito Israelo-Palestino no contexto atual do Oriente Médio, abordando-o desde a origem de ambos movimentos nacionais, discutindo as razões pelas quais o projeto sionista foi bem sucedido, frente à estagnação da condição palestina.”
Os estudantes encorajam os colegas a não assistirem as aulas do curso.
Leia a seguir a nota divulgada por eles no Facebook
Nota de repúdio publicada no facebook
Nós, Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino - Universidade de São Paulo (ESPP-USP), repudiamos a realização do curso coordenado por Gabriel Steinberg “Para entender o Oriente Médio e o conflito israelo-palestino”, ministrado por Samuel Feldberg.
Entendemos ser essencial que a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas impulsione cursos e debates acerca do tema de Israel e Palestina para que se tenha uma maior percepção e entendimento dos conflitos que acontecem no Oriente Médio e como o Brasil possui relação com ela.
No entanto, discordamos fundamentalmente do conteúdo apresentado por este, assim como pelo que os responsáveis pelo mesmo representam e defendem publicamente, como conteúdos com teor discriminatório ao povo palestino.
Ao colocar o Sionismo como um projeto que deu certo e a Palestina como
estagnada, defendendo o primeiro - assim como está nos objetivos do curso - tenta-se mascarar a realidade palestina que enfrenta um cenário de colonização e limpeza étnica, com políticas segregacionistas contra os mesmos dentro dos territórios de 48.
Enquanto Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino, repudiamos esse curso e encorajamos nossos colegas a não patrocinarem esse tipo de conteúdo, visto que esse curso representa a ideia hegemônica do Sionismo como um projeto salvador - posicionamento que a ESPP se coloca radicalmente contra. Entendemos o Sionismo, na Palestina, como um projeto colonizador que continua em andamento desde o começo do século XX, com a constante e cotidiana expulsão dos palestinos de suas terras, além da sistemática violação dos direitos humanos destes. Acreditamos que independentemente do governo que se estabelece - mais ligado a direita ou esquerda - a própria manutenção de um Estado de caráter colonial, que se deu a partir de genocídios, destruição de vilas e expulsão dos palestinos, representa e mantém a condição de guerra e apartheid no local.
Diante disso, defendemos que a Universidade de São Paulo, e em especial a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, se constitua como um espaço de combate às ideias de apartheid e colonização e que não corrobore com instituições ou discursos que violem os direitos de qualquer povo, inclusive o povo palestino. Por isso, levantamos três bandeiras mínimas e fundamentais: “Pelo Direito de Retorno dos Refugiados Palestinos, pelo fim da Ocupação e pela igualdade de Direitos dos palestinos em Israel”.
Por fim, gostaríamos de enfatizar, enquanto ESPP, que nos colocamos veementemente contra qualquer tipo de manifestação e pensamento antissemita. Ao repudiar o projeto sionista, repudiamos um projeto de colonização e um projeto que, em suas práticas, é abertamente racista. Nunca nos colocaremos ao lado de qualquer força, organização ou discurso que se assemelhe ou, de fato, seja antissemita. Levantamos claramente um de nossos princípios básicos: “Antissionismo sim, antissemitismo jamais!”
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