Relatório da CIA: Grupos de direitos palestinos acusados de "terrorismo" por Israel não são "culpados de nada"
A CIA foi incapaz de encontrar provas das acusações israelenses contra grupos de Direitos Humanos da Palestina; desde outubro de 2021, propaganda do Apartheid israelense sofre com descrédito até mesmo entre seus aliados nos Estados Unidos e Europa.
Brasília, 25 de agosto de 2022.
Da Redação do IBRASPAL.
O renomado jornal inglês The Guardian noticiou com exclusividade, nesta segunda-feira, a existência de um relatório que apurou as acusações levantadas por Israel contra seis organizações da sociedade civil palestina. Este documento altamente sigiloso foi elaborado pela CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos, a partir de informações apresentadas por Israel.
O relatório conclui, segundo fontes ouvidas pelo Guardian, não haver prova alguma de que as organizações tenham qualquer ligação com atividades terroristas. As seis ONGs não são, segundo relatório da maior agência de inteligência do planeta, órgão do principal aliado do regime de apartheid de Tel Aviv, “culpadas de nada”.
Eis o tamanho da retumbante derrota da propaganda israelense. Nem mesmo a CIA, pródiga em justificar invasões, golpes de Estado e violências diversas, foi capaz de corroborar suas mentiras. Mas não para por aí: o vazamento do conteúdo deste relatório apenas se soma ao descrédito e repúdio internacional às mentiras da propaganda israelense contra as seis ONGs da sociedade civil palestina.
DESCRÉDITO ATÉ MESMO ENTRE ALIADOS
Qualquer pessoa que acompanhe o trabalho das seis organizações atacadas por Israel sabe da improcedência das acusações e de suas motivações políticas. Estas acusações visam calar os críticos do regime de segregação racial que hoje vigora nos territórios ocupados. A criminalização da sociedade civil e o silenciamento das denúncias buscam proteger a imagem internacional de Israel à custa dos direitos de palestinos e demais minorias políticas sob poder do Apartheid israelense.
O surpreendente, desta vez, é que nem mesmo países da União Europeia e setores da política estadunidense, que normalmente repetem acriticamente as peças de propaganda de Israel ou, no mínimo, evitam se pronunciar a respeito, compraram a narrativa israelense.
Dez países da União Europeia e um corpo de especialistas da organização rejeitaram, recentemente, as acusações contra as ONGs palestinas por falta de provas. Após a agressão eleitoreira de Israel a Gaza, mês passado, e a invasão às sedes das organizações palestinas por militares israelenses, dezenas de representantes diplomáticos visitaram e prestaram solidariedade às organizações agredidas.
Nos Estados Unidos, a questão é mais sensível. Os EUA tem evitado se pronunciar a respeito do tema. A escorregadia e constrangedora abordagem do tema por Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, é um exemplo dessa postura. Questionado a respeito, na semana passada, Price se limitou a expressar “preocupação” com o fechamento das ONGs pelo regime racial de Israel, sem no entanto expressar repúdio. Após interpelação insistente do jornalista Matt Ryan, teve coragem apenas de dizer que o Departamento de Estado “está analisando a situação” e que, até agora, “não mudou sua postura em relação às seis organizações”, embora reconheça a PFLP como “terrorista”.
Nos bastidores, ainda segundo o Guardian, a orientação é para evitar tocar no assunto ou dizer qualquer coisa relevante a respeito. Esta orientação teria partido de Anthony Blinken, Secretário de Estado de Biden.
Incluem-se ainda nesta conta alguns parlamentares que defendem apaixonadamente as posições israelenses, como o Democrata da Flórida Ted Deutch. O deputado, segundo o Guardian, teria ficado impressionado com a fragilidade das “evidências” israelenses. Deutch teria dito às autoridades israelenses que as evidências a ele apresentadas eram insuficientes para o convencer.
Até mesmo movimentos sionistas "liberais" e "de esquerda" (sic) dos EUA pressionaram o governo dos estadunidense a condenar o que chamaram de "perseguição" à sociedade civil palestina, num movimento muito raro de crítica às políticas de Israel por movimentos como o "J Street" e o "Paz Agora".
CONTEXTO
Em outubro do ano passado, o ministro da “defesa” (sic) israelense Benny Gantz enquadrou grupos de direitos humanos, de promoção de eventos culturais e de defesa das mulheres, crianças, presos políticos e agricultores palestinos como “terroristas” com base em “evidências” jamais apresentadas.
Os grupos acusados foram: a Associação Addameer de Apoio a Prisioneiros e Direitos Humanos, Al-Haq (primeira ONG de Direitos Humanos da Palestina, fundada em 1979), o Centro Bisan de pesquisa e Desenvolvimento, a ONG suíça Defesa para Crianças Internacional – Palestina (DCI-P), a União dos Comitês de Trabalho Agrícola e a União dos Comitês de Mulheres Palestinas.
Em campanha eleitoral, o primeiro-ministro Yair Lapid (que compõe governo com Gantz) liderou uma agressão não-provocada a Gaza, assassinando covardemente 17 crianças para melhorar sua posição nas intenções de voto entre os israelenses. Semanas depois, por sua ordem, a DCI-P, organização que Gantz havia listado como terrorista, documentou e comprovou o assassinato destas crianças por Israel. Resultado: a ONG foi fechada à força por este mesmo exército, que chegou a prender Khaled Quzmar, diretor da organização.
Além de Quzmar, o Diretor de Al-Haq, Shawan Jabarin, também foi convocado por tropas israelenses por exercer “atividade criminosa” ao seguir trabalhando. Shawan Jabarin se recusou a se apresentar à polícia israelense, decisão que rendeu ameaças à sua vida e liberdade. Às ameaças Jabarin respondeu que não fez nada errado e que, se o quiserem, sabem onde encontrar. O destemido diretor de Al-Haq segue trabalhando normalmente.
O QUE É ESSE TAL “TERRORISMO”?
A acusação israelense consiste em afirmar que as seis ONGs são meras fachadas para a Frente Popular para a Libertação da Palestina, PFLP.
A PFLP é um partido político não-religioso da esquerda marxista-leninista palestina. É um movimento de libertação nacional pautado pela resistência contra a colonização da Palestina. Assim como o CNA sul-africano, de Mandela, a FRELIMO de Moçambique, o PPAIGC, de Guiné-Bissau e Cabo Verde ou o MPLA na Angola, o grupo não abdica da resistência armada como uma das formas de resistência legítima dos povos contra o colonialismo.
É por resistir “por todos os meios necessários” ao colonialismo, como defendia Malcolm X, que o grupo é listado como terrorista desde 1997 pelos Estados Unidos.
Não existem provas da ligação de qualquer um dos grupos com a PFLP. E, mesmo que houvessem, o que chamam de “terrorismo” é apenas o legítimo exercício do direito dos povos de resistir à tirania colonial. Os membros da PFLP são, nesse sentido, tão “terroristas” quanto foram George Washington ou Simón Bolívar.
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Com informações de The Guardian, Mondoweiss, Al-Haq, DCI-P, Days of Palestine e do Departamento de Estado dos EUA.
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