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Guerra versus Paz: Israel já decidiu e nós também deveríamos

Foto: Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu discursa a apoiadores na sede de seu partido, o Likud, na cidade litorânea israelense de Tel Aviv, logo após eleições gerais, em 10 de abril de 2019 [Jack Guez/AFP/Getty]

Por Ramzy Baroud

 

Afinal, o que aprendemos das eleições legislativas israelenses de 9 de abril?

Bastante.

Para começar, não permita que expressões como “corrida apertada”, para se referir ao Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu e seu principal rival, Benny Gantz, enganem você.

Sim, os israelenses estão divididos sobre alguns tópicos particulares referentes à sua estrutura econômica e social. Mas também estão firmes em sua união ao redor do problema que mais deveria nos preocupar: a consistente subjugação do povo palestino.

De fato, “corrida apertada” ou não, Israel votou para consolidar o Apartheid, apoiar a anexação em andamento da Cisjordânia ocupada e manter o cerco a Gaza.

Após as eleições, Netanyahu emergiu ainda mais poderoso; seu partido Likud saiu vitorioso, com 36 assentos, seguido pelo Kahol Lavan (Azul e Branco) de Gantz, com 35 assentos.

Gantz, estrela em ascensão na política israelense, foi rotulado durante toda a campanha como um político centrista, uma designação que emendou alguma expectativa de vida à subjugada “esquerda” israelense – da qual pouco resta de esquerda.

Este rótulo ajudou a sustentar a breve ilusão de que há uma alternativa israelense ao campo radical de extrema-direita liderado por Netanyahu.

Porém, jamais houve qualquer evidência que sugerisse que Gantz poderia ter sido infimamente melhor no que concerne à questão crucial de encerrar a ocupação israelense, desmantelar o regime de Apartheid e dar cabo ao discurso nacional predominantemente racista.

O oposto é verdade.

Gantz criticou repetidamente Netanyahu por supostamente ser brando demais com Gaza, prometendo atormentar o território com ainda mais morte e destruição ao ponto de que, de acordo com as Nações Unidas, o tornaria inabitável em 2020.

Uma série de vídeos intitulados “Somente os Fortes Sobrevivem” foi divulgado pela campanha de Gantz durante a corrida eleitoral. Nas gravações, Gantz é representado como um salvador nacional, que matou inúmeros palestinos ao servir como chefe de equipe do Exército, entre 2011 e 2015.

Gantz tem um orgulho especial de ser parcialmente responsável por bombardear Gaza “de volta à idade da pedra.”

Importou pouco aos centristas israelenses ou ao restante da esquerda que, em 2014, durante a guerra contra Gaza, designada Operação “Margem Protetora”, mais de 2.200 palestinos foram mortos e mais de 11.000 foram feridos. Na guerra mais trágica de sua história, mais de 500 crianças foram mortas e muito da já debilitada infraestrutura de Gaza foi destruída.

Mas, vale reiterar, porque votariam por Gantz à medida que Netanyahu e seu campo radical de extrema-direita já executam o trabalho?

Infelizmente, a futura coalizão de Netanyahu será provavelmente ainda mais extrema do que a anterior.

Sobretudo, graças a novas alianças possíveis, Netanyahu provavelmente irá livrar-se de aliados inconvenientes, como o ex-ministro da defesa, Avigdor Lieberman.

Uma mudança significativa na provável composição da direita israelense é a ausência de tais figuras dominantes, que também incluem, junto a Lieberman, o ex-ministro da educação, Neftali Bennet, e o ex-ministro da justiça, Ayelet Shaked.

Toda a bancada de Bennet e Shaked, responsáveis pela criação de um novo partido chamado “A Nova Direita”, sequer conquistaram votos suficientes para atingir a cota partidária necessária para garantir um único assento no Parlamento israelense, o Knesset. Precisavam de 3,25 por cento dos votos, mas alcançaram somente 3,22 por cento. Ambos estão fora do jogo.

A derrota da infame dupla é bastante irrelevante: os símbolos da direita radical israelense não mais cumprem as expectativas do público extremista de Israel.

O ambiente agora está amplamente aberto aos partidos ultra-ortodoxos, Shas, que agora possui oito assentos, e o Judaísmo Unido do Torá, com sete assentos, para que ajudem a definir a nova normalidade em Israel.

A esquerda israelense – se algum dia mereceu o título – recebeu um golpe fatal; o antes proeminente Partido Trabalhista conquistou somente seis assentos.

Por outro lado, partidos árabes que concorreram às eleições de 2015 sob a bandeira unida da “Lista Conjunta”, fragmentaram-se outra vez, para coletivamente conquistar somente dez assentos.

A perda de três assentos destes partidos, comparada às eleições anteriores, pode ser consequência, em parte, de agendas facciosas ou particulares. Porém, é bastante difícil explicar a queda massiva da participação eleitoral da população árabe: 48 por cento comparado aos 68 por cento de 2015.

Este recorde de baixa participação só pode ser explicado através da lei racista do “Estado-Nação”, aprovada pelo Knesset dominado pela direita, em 19 de julho de 2018. A nova Lei Básica declarou Israel como “estado-nação do povo judeu”, relegando os direitos do povo palestino, sua história, cultura e idioma, enquanto exalta tudo que é judeu, declarando a autodeterminação no estado como um direito exclusivamente judeu.

Essa tendência provavelmente irá continuar, conforme as instituições políticas de Israel não mais oferecem a menor margem simbólica para uma verdadeira democracia e para uma representação justa.

No entanto, talvez, a lição mais importante que podemos aprender das consequências dessas eleições é que, em Israel hoje, a ocupação militar e o apartheid foram internalizados e normalizados como realidades incontestáveis, indignas do menor debate nacional. Isso, em particular, deve nos chamar a atenção imediata.

Durante as campanhas eleitorais, nenhum partido majoritário falou de paz, muito menos forneceu alguma perspectiva abrangente sobre como alcançá-la. Nenhum líder político reivindicou o desmantelamento dos assentamentos ilegais judaicos, construídos em terras palestinas em violação ao direito internacional.

Mais importante e impressionante, ninguém falou da solução de dois estados.

No que concerne aos interesses israelenses, a solução de dois estados está morta. Embora também seja verdade para muitos palestinos, a alternativa israelenses dificilmente se refere a coexistência em um único estado democrático secular. A alternativa israelense é o Apartheid.

Netanyahu e sua futura coalizão de governo de extremistas similares estão agora armados de um mandado inequivocamente popular a fim de executar todas as suas promessas eleitorais, incluindo a anexação da Cisjordânia.

Sobretudo, com uma coalizão de direita fortalecida e encorajada, também é provável que testemunhemos uma grave escalada na violência contra Gaza, no próximo verão.

Considerando todos esses aspectos, devemos compreender que as políticas ilegais de Israel na Palestina não podem e não irão ser desafiadas pela sociedade israelense.

Os objetivos de desafiar e vencer a ocupação israelense e desmantelar a estrutura de Apartheid só podem ser alcançados através da resistência interna palestina e da pressão externa, concentrada em torno da estratégia de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS).

Cabe agora à comunidade internacional quebrar esse ciclo vicioso israelense e apoiar o povo palestino em sua luta contínua contra o apartheid, a ocupação e o racismo de Israel.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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