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Não tocar para o apartheid é a solidariedade que precisamos

Se apresentar em Israel significa endossar políticas e práticas racistas, coloniais e de apartheid – ilegais sob o direito internacional

Por Soraya Misleh

 

Não cantar para o apartheid é a solidariedade que os palestinos precisam

“A voz do coração diz não ao apartheid.” Sob esse mote, o BDS Brasil deu início em 20 de maio último a campanha pública para que o cantor Milton Nascimento não se apresente em Tel Aviv. Marcado para 30 de junho próximo, o show está sendo divulgado como parte de sua turnê “Clube da Esquina”, que inclui apresentações no Brasil e na Europa. Entre os signatários de carta enviada à produção e à assessoria de imprensa do artista, o reconhecido escritor Milton Hatoum, professores universitários e lideranças indígenas, além de centenas de organizações, inclusive de outros países da América Latina, ativistas, jornalistas e membros da comunidade árabe-palestina.

 

A iniciativa é parte da principal campanha internacional de solidariedade ao povo palestino: BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) a Israel. O chamado vem sendo feito pela sociedade civil palestina desde 2005 e se fundamenta na ação que ajudou a pôr fim ao regime de apartheid na África do Sul nos anos 1990. “A definição legal para apartheid se aplica a qualquer situação no mundo em que se encontram três elementos centrais: dois grupos raciais podem ser identificados; atos desumanos são cometidos contra o grupo subordinado; e ações são cometidas sistematicamente no contexto de um regime institucionalizado de dominação de um grupo sobre outro.” O conceito foi apresentado pelo Tribunal Russell sobre a Palestina em sessão realizada em novembro de 2011 na África do Sul, que concluiu ser esse o regime imposto por Israel aos palestinos.

 

A conclusão fundamenta-se em fatos. Entre eles, a discriminação cotidiana imposta a 1,5 milhão de palestinos que vivem em Israel, estado criado em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica de 2/3 da população árabe nativa (Nakba, catástrofe). Embora tenham direito a voto, não têm reconhecidos os mesmos direitos humanos que o restante da população, por não serem judeus.

 

Além disso, os 3,9 milhões que vivem nos territórios ocupados ilegalmente por Israel em 1967 – ou seja, Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental – não podem transitar livremente entre as cidades da Palestina, submetidos a toda sorte de diferenciação, como nas cores de placas de automóveis e documentos de identidade. Há estradas exclusivas para colonos judeus e uma série de aparatos, como muros, cercas, checkpoints, que impedem ou dificultam sua circulação, garantem a colonização sobre as terras árabes e o controle militar por parte da potência ocupante. Ademais, há 5 milhões de refugiados a um raio de 150km da Palestina impedidos de retornar às suas terras, direito reconhecido até pela Organização das Nações Unidas (ONU) em sua Resolução 194, de 11 de dezembro de 1948. Compõem ainda a sociedade palestina outros milhares espalhados pelo mundo, sujeitos a humilhações e permissão israelense para ir às terras onde remontam suas origens.

 

O regime de apartheid, como observou o Tribunal Russell, é proibido pela lei internacional e considerado crime contra a humanidade – determinação motivada justamente pelo modelo que prevaleceu na África do Sul. Segundo a jornalista Naomi Klein denuncia em seu livro “A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo de desastre”, “as semelhanças [em relação ao que ocorre na Palestina] são grandes, mas há diferenças também. Os bantustões da África do Sul eram, essencialmente, acampamentos de trabalho, uma forma de manter os trabalhadores africanos sob estreita vigilância e controle e forçá-los a trabalhar nas minas por baixos salários. Israel construiu um sistema destinado a fazer o oposto: impedir que os trabalhadores trabalhem, com uma rede de amplas cercas de contenção, para milhões de pessoas classificadas como humanidade excedente”.

 

Em outras palavras, enquanto os negros na terra de Nelson Mandela eram autorizados a sair dos guetos mediante passes para servir de mão de obra barata, nos territórios ocupados, imigrantes foram usados como substituição à força de trabalho nativa. Há outras semelhanças, para a exploração e opressão: desumanização, humilhação, repressão violenta, assassinatos, prisões políticas.

 

A campanha

Seria impossível imaginar hoje que um artista engajado e sério se dispusesse a cantar para o apartheid sul-africano, mas em relação ao sionismo ainda é preciso lutar contra ideologia poderosa, 71 anos após a Nakba. O BDS é uma ferramenta importante para isolar o apartheid israelense e também nessa batalha pela conscientização quanto à colonização e ocupação. Suas demandas são: o fim imediato da ocupação militar e colonização de terras árabes e a derrubada do muro de segregação, que vem sendo construído na Cisjordânia desde 2002, divide terras, famílias e impede a livre circulação; a garantia de plena igualdade de direitos a todos os cidadãos árabes-palestinos que vivem onde hoje é Israel; e o respeito ao direito de retorno dos refugiados palestinos às suas terras e propriedades.

 

Assim como o boicote acadêmico – que tinha entre seus apoiadores o brilhante cientista Stephen Hawking (1942-2018) –, o cultural é uma das linhas da campanha. Entre seus adeptos o mais conhecido é o cantor Roger Waters. Também cancelaram shows em Tel Aviv em apoio ao movimento Lauryn Hill, Snoop Dog, Carlos Santana, Cold Play, Lenny Kravitz, Elvis Costello e Linn da Quebrada, além de inúmeros outros.

OMAR BARGHOUTI, COFUNDADOR DO BDS

Conforme escreve o ativista Omar Barghouti em “BDS – Boycott, Divestment, Sanctions: the Global Struggle for Palestinian Rights”, o chamado palestino reivindica: cessar qualquer forma de cooperação acadêmica e cultural, colaboração ou projetos com instituições israelenses; suspender todas as formas de fundos e subsídios a essas e ‘desinvestir’ nelas; trabalhar para condenar as políticas de Israel e pressionar pela adoção de resoluções nesse sentido; e apoiar instituições acadêmicas e culturais palestinas sem contrapartida em relação ao Estado sionista.

 

Neste mês de maio, além do início a partir do Brasil da campanha para que Milton Nascimento não cante em Tel Aviv, o BDS focou intensamente em dissuadir artistas a se apresentarem no Festival da Canção Eurovision, considerado o maior concurso do mundo e realizado pela terceira vez em Israel pela União Europeia de Radiodifusão (EBU na sigla inglês).

 

''A ação internacional alertava que, ao sediar o evento, Israel o utilizou para apresentar sua “cara mais bonita”, de modo a encobrir e desviar a atenção do mundo quanto a seus crimes contra a humanidade. Algo denominado artwashing, ou “lavar de arte”.
 

O chamado à campanha por boicote ao Eurovision em Tel Aviv informava sobre massacres cometidos em Gaza, enquanto Israel vendia sua falsa imagem de país da diversidade e inclusão. Essa era a imagem que os organizadores tentavam passar ao explicarem o slogan “Dare to Dream” (Ousar sonhar).

 

A campanha foi vitoriosa: alguns artistas cancelaram a participação no Eurovision e a ação recebeu apoios públicos de figuras proeminentes em diversos países, além da assinatura de 150 mil pessoas em um abaixo-assinado pedindo por boicote cultural ao festival. Impactou a propaganda israelense e a economia local, que sustenta a ocupação de terras palestinas. Desta vez havia ingressos sobrando para o Eurovision em Tel Aviv. Segundo a campanha, hotéis esvaziados foram uma mostra do êxito da campanha, indicando que muitos turistas se abstiveram de ir ao festival. Ao final, este reuniu cerca de 5 a 7 mil presentes, ante 90 mil no ano anterior.

 

Normalização

Diante da enorme repercussão, houve gestos também durante o Eurovision: Madonna, que já se apresentara em Israel antes, ignorando o apelo palestino, exibiu no palco bandeiras israelense e palestina nas vestes de seu grupo – uma normalização do apartheid, muito diferente do que ela divulgou no Twitter: uma mensagem de “paz e união com o mundo”.

 

“Em uma tentativa de ‘limpar’ suas violações dos direitos humanos e internacional, Israel tenta se remarcar ou se apresentar como normal – mesmo “iluminado” – por meio de um conjunto intrincado de relações e atividades que abrangem atividades de alta tecnologia, culturais, legal, LGBT e outras. Um princípio-chave que sublinha o termo normalização é que ele é inteiramente baseado em considerações políticas (…) e está, portanto, em perfeita harmonia com a rejeição do movimento BDS de todas as formas de racismo e discriminação racial. Combater a normalização é um meio de resistir à opressão, seus mecanismos e estruturas. Como tal, é categoricamente não relacionado ou condicionado à identidade do opressor”, explica artigo divulgado no site da campanha de boicote cultural.

 

O movimento cita ainda outra forma de normalização: fig-leaf (expressão inglesa que significa literalmente folha de figo, usada como metáfora à tentativa ou conveniência de se encobrir ato embaraçoso). “No contexto da aplicação das diretrizes do movimento BDS para o boicote internacional acadêmico e cultural a Israel, a campanha às vezes enfrenta cenários em que furadores do boicote tentam resgatar sua consciência, e com algum fundamento moral usam palestinos (ou mais raramente outros árabes) como fig-leaf para encobrir sua cumplicidade nas violações israelenses aos direitos humanos, internacional e dos palestinos. Enquanto o pool de ‘folhas de figo’ disponível está diminuindo a cada ano, graças à recente disseminação da consciência BDS entre os palestinos e no mundo árabe, ainda há aqueles que estão prontos para aceitar que seus nomes sejam manipulados na política cínica da agenda dos violadores internacionais de boicote.”

 

Na final do Eurovision, em 18 de maio, gesto datambém pode ser enquadrado como normalização: o grupo ergueu bandeiras palestinas estilizadas na forma de hattas (lenços árabes). O vocalista Klemens Nikulásson Hannigan exibiu um sinal de “v” da vitória, que simboliza a resistência à ocupação israelense. Segundo o portal Monitor do Oriente, boa parte do público de Tel Aviv reagiu com vaias e tem havido ameaças de punição à banda, por infringir regras de um “evento não político”. Uma falácia, já que artwashing tem fins políticos, como a campanha internacional de boicote cultural ensina. Integra a ação milionária sionista de relações públicas em prol da colonização, apartheid e ocupação.

 

A exibição da bandeira confundiu solidários no mundo inteiro, mas não impressionou o movimento por boicote cultural. “Palestinos chamaram todos os concorrentes a se retirarem da competição no apartheid em Tel Aviv.  Isso inclui a participante da Islândia, Hatari (…). Artistas que insistem em cruzar a linha de piquete do boicote, tocando em Israel em desafio aos nossos chamados, não podem compensar o dano que causaram à nossa luta por direitos humanos ‘balanceando’ seu ato de cumplicidade com algum projeto com palestinos”, escreveu a organização da campanha no Twitter. E acrescentou: “A sociedade civil palestina esmagadoramente rejeita os gestos de solidariedade fig-leaf de artistas internacionais que cruzam nossa linha de piquete pacífica, aprendida da luta contra o apartheid na África do Sul. Enquanto apreciamos gestos de solidariedade, não podemos aceitá-los quando eles vêm com um ato que claramente mina nosso movimento não violento por direitos humanos. A mais significativa expressão de solidariedade é cancelar performances no apartheid israelense (…).”

BANDA PUNK ISLANDESA HATARI, DURANTE APRESENTAÇÃO EM TEL AVIV

Um dos efeitos dessa confusão, bastante nefasto, é que há quem considere que não é preciso atender ao apelo por boicote cultural a Israel: bastaria ir e erguer bandeiras palestinas ou se expressar contra a ocupação – o que é refutado pelo movimento. É muito mais efetivo aderir ao chamado do BDS e, como ficou demonstrado no Eurovision 2019, o impacto vai além do simbolismo de um artista não cantar para o apartheid e da consequente fundamental visibilidade à justa causa pela libertação da Palestina. É econômico, pois impede, por exemplo, que recursos para a falsa diversidade, inclusão e arte ingressem no apartheid israelense.

 

Esse gesto aparentemente bem intencionado serve ainda a grupos atacarem a principal campanha internacional de solidariedade ao povo palestino, e a mais efetiva do último período. Entre esses, o daqueles chamados “sionistas de esquerda”, que pregam o diálogo, a coexistência e a paz, mas não abrem mão do que consideram “direito de defesa” do Estado ocupante de Israel. Em resenha sobre a publicação “Falsos profetas da paz”, de Tikva Honig-Parnass, o Ijan (Rede Internacional de Judeus Antissionistas) demonstra que historicamente a “esquerda” sionista esteve tão alinhada com o projeto de colonização da Palestina quanto a direita. “Como esse livro mostra, desde antes da fundação do Estado de Israel, a esquerda sionista falou demasiadas vezes a língua do universalismo, enquanto ajudava a criar e manter sistemas jurídicos, governos e o aparato militar que permitiram a colonização de terras palestinas.”

 

Outra forma de ocupação

Consciente disso, a palestina Budour Hasan escreveu artigo intitulado “A falsa solidariedade da esquerda sionista”, em que denunciava outra forma de normalização: a participação em iniciativas chamadas por sionistas na Palestina ocupada. Ela se referia à realização de uma marcha em Jerusalém em 15 de julho de 2011 cujos slogans eram “luta compartilhada” e “solidariedade” contra a ocupação dos territórios palestinos – obviamente nenhuma menção ao direito de retorno dos refugiados, uma das demandas fundamentais do BDS. “Essas manifestações são dominadas por sionistas liberais, e as vozes palestinas, as quais supostamente querem se fazer ouvir, são inaudíveis em meio a um coro de cânticos em língua hebraica sobre a paz e coexistência. Mesmo os slogans e os cartazes que foram levantados durante as manifestações foram decididos de antemão pelos organizadores israelenses, transformando os protestos em uma rotina entediante, dolorosamente previsível e elitista.”

 

Em outra parte do artigo, ela revela o grande risco de que esses grupos sequestrem o crescente movimento popular de resistência sob o manto da solidariedade e da coexistência. E vai além: “A solidariedade não é nem um ato de caridade, nem um festival de discursos arrogantes e retórica vazia. É uma obrigação moral que deve ser realizada com todo o empenho, firme e incondicional. (…) As tentativas de explorar o sofrimento palestino para fins políticos e de transformar a causa palestina a partir de uma luta pelos direitos humanos, justiça, liberdade e igualdade em um desfile de independência e clichês falsos devem ser combatidas.” Ela conclui: “Quando cidadãos em uma posição privilegiada formulam e desenham uma solução e a impõem a um povo colonizado e sob ocupação como a única solução viável e o ‘único passo construtivo restante’, isso não é solidariedade, mas sim outra forma de ocupação.”

 

Uma das manifestações que impressionam e têm sido vistas com bons olhos por pessoas solidárias, bem intencionadas, é a marcha de mulheres palestinas e israelenses pela paz, promovida pela Women Wage Peace, organização criada por iniciativa israelense em 2014, após o massacre a Gaza daquele ano. No site 972mag, a articulista israelense Orly Noy conta que acompanhou a marcha e fala sobre sua frustração ao perceber que não se falava em ocupação durante a passeata em 2017, que terminou em Jerusalém: “Suas demandas podem ser resumidas assim: negociações de paz que incluam mulheres. (…) Mesmo a oradora palestina, a única que veio dos territórios ocupados [em 1967], de Hebron [em árabe, Al Khalil], uma cidade que vive sob apartheid, não mencionou a palavra ocupação sequer uma vez. Ela nem falava em árabe, pelo amor de Deus, mas sim em inglês.

MULHERES DO MOVIMENTO WOMEN WAGE PEACE DURANTE UMA MARCHA EM ISRAEL

Nenhuma palavra sobre os postos de controle ou as dificuldades que sofreu apenas para obter uma permissão do exército israelense para entrar em Israel. Ocupação? Esqueça. Estamos falando do conflito – uma palavra muito mais agradável e simétrica que a ocupação. (…)” Ela continua: “E sim, existe uma política liderada por mulheres e pode ser revolucionária e poderosa – uma política que, em primeiro lugar, desafia as hierarquias e estruturas sociais existentes. A política liderada por mulheres que vi em Jerusalém era o oposto disso, no entanto. Foi o tipo que apenas fortalece as estruturas de poder existentes.”

 

Erguer a bandeira do BDS

O artista que verdadeiramente tem a intenção de se solidarizar com os palestinos tem que ouvir as vozes palestinas. E o que pedem é boicote cultural. Milton Nascimento tem longa trajetória de apoio a causas justas e denúncia do racismo que ele próprio enfrentou ainda na infância. Em 1991, após se encontrar com os índios das tribos Ashaninka e Huni Kuin (Kaxinawá) no Acre, dedicou um disco inteiro a esses povos originários, denominado Txai – expressão cujo significado é “a metade em mim que existe em você”. Por seu apoio à luta indígena, recebeu em 2010 uma enorme honraria: junto a 37 líderes espirituais da tribo Guarani-Kaiowá, foi batizado como Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi [Semente da Terra]. Milton Nascimento tem ainda em seu repertório músicas contra a ditadura militar-civil no Brasil que foram adotadas pelo movimento Diretas Já, como “Nada será como antes” e “Credo”, além de “Coração de Estudante”, cantada à exaustão por manifestantes. Em seu Facebook, postou o apoio à luta dos estudantes e professores durante a greve nacional da educação neste 15 de maio, contra os cortes orçamentários na área feitos pelo Governo Bolsonaro – em cujos atos públicos bandeiras palestinas foram levantadas.

 

Por seu posicionamento histórico, as organizações, ativistas e comunidade árabe-palestina destacam na carta a Milton Nascimento, transformada em petição pública: “Aprendemos com sua música que todo artista tem que ir aonde o povo está. Certamente o povo não está com o apartheid, a colonização e a ocupação. O coração de estudante, que agora se levanta no Brasil pelo direito à educação, não bate pelo apartheid israelense, que impede esse e outros direitos humanos fundamentais aos palestinos. Os povos da floresta não concordam com a colonização. A ‘semente da terra’ não pode germinar sob o sangue dos oprimidos, o sangue dos palestinos derramado cotidianamente pela ocupação israelense.

 

''Tocar em Israel vai na contramão disso. Significa endossar políticas e práticas racistas, coloniais e de apartheid – ilegais sob o direito internacional.

 

Ademais, o governo israelense apresenta os shows em Israel como um sinal de aprovação a suas políticas. Israel viola sistematicamente o direito internacional ao impedir o retorno dos refugiados palestinos, ao colonizar e ocupar a Cisjordânia e a Faixa de Gaza e ao discriminar sistematicamente os palestinos hoje cidadãos de Israel. As políticas discriminatórias de Israel também se manifestam contra refugiados e migrantes africanos: recentemente milhares de etíopes foram brutalmente reprimidos ao protestarem contra o racismo no país. (…)”

 

O texto cita o arcebisbo sul-africano Desmond Tutu, Nobel da Paz, importante apoiador do BDS, segundo o qual apresentar-se em Tel Aviv é errado, “assim como dissemos que era inapropriado para artistas internacionais tocarem na África do Sul durante o apartheid, em uma sociedade fundada em leis discriminatórias e exclusividade racial. Apresentar-se em Israel seria como fazer um show em Sun City na África do Sul do apartheid”.

 

A carta termina com o apelo: “Por favor, não ignore esse chamado. Os palestinos não querem mais a morte, têm muito o que viver! Quem cala morre com eles, quem grita vive com eles. A voz que vem do coração diz não ao apartheid!” Para não macular sua belíssima trajetória, Milton Nascimento, cancele seu show em Tel Aviv.

 

Soraya Misleh Jornalista palestino-brasileira, mestre e doutoranda em Estudos Árabes pela Universidade de São Paulo (USP). Autora do livro “Al Nakba – um estudo sobre a catástrofe palestina” (Ed. Sundermann).

 

Fonte: Carta Capital

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