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Não à anexação e à ocupação a Cisjordânia e sim à paz e à democracia

Por Francirosy Campos Barbosa

É urgente que apoiadores internacionais da causa Palestina se unam em defesa da terra e da sobrevivência do povo palestino. Neste momento precisamos unir vozes em nossas redes sociais, falas públicas em todos os contextos para nos colocar “Contra a anexação israelense, Palestina livre”. É fundamental se opor a anexação da Cisjordânia situada na margem oeste do rio Jordão e delimitado por Israel ao norte, oeste e sul.  Esta região, excluindo Jerusalém Oriental, abriga em torno de 430.000 judeus israelenses que vivem em 132 assentamentos, além de 124 “postos” menores construídos sob a ocupação de Israel. Esses assentamentos são considerados ilegais sob a perspectiva do direito internacional.
 
Entretanto, o “Acordo do Século", que eu prefiro chamar de “Apartheid do Século” deve ser perpetrado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu com aval de Donald Trump a partir de 1º de julho. Com isso haverá anexação de 30 % da Cisjordânia, violando os Acordos de Oslo e a Lei Internacional. A fixação de Israel por anexação de terras palestinas beira a construção de uma comunidade imaginada – para pensar nos termos de Benedict Anderson -, que estabelece uma “terra prometida” ao povo judeu, isso se evidencia quando se referem à Cisjordânia como “Judéia e Samaria” como forma de remeter a um discurso de terras dos judeus, mas, bem sabemos, que se trata da Palestina ocupada em 1948 durante a Nakba e aprofundada em 1967 com a guerra dos seis dias. 
 
O tal “acordo do século” constitui pontos que vão contra os interesses dos Palestinos, a saber: o reconhecimento de Jerusalém como capital indivisível de Israel, a permanência dos assentamentos ilegais e a anexação definitiva do Vale do Jordão, que impedirá a sobrevivência de palestinos promovendo assim mais uma violência simbólica (quando se refere a uma comunidade imaginada, original) e concreta.
 
Ainda como parte do plano, Israel anexaria blocos de colônias israelenses na Cisjordânia e, em compensação, transferiria a um futuro Estado palestino – a ser criado em quatro anos – terras no deserto do Neguev (Sul do país) e no chamado “Triângulo” (Norte), apelido de um bloco de comunidades árabes na fronteira com a Cisjordânia. Baqa al-Gharbiyye é uma delas e também um importante centro urbano da minoria árabe em Israel (20% da população total do país). 
 
A proposta de anexação acaba definitivamente com a solução de dois Estados. Lideranças palestinas denunciam o acordo unilateral, que mais enfraquece um governo Palestino, do que lhe dá autonomia. As principais áreas a serem anexadas são o Vale Cremisan e o Vale Al Makhrour, em Beit Jala. A medida pode resultar em cerca de 4,5% dos palestinos na Cisjordânia vivendo em enclaves dentro do território anexo. Os palestinos buscam defender toda a Cisjordânia - à qual reivindicam um direito histórico - de um futuro estado independente junto com a Faixa de Gaza. Esta anexação de Israel fragmentaria ainda mais as terras e deixaria um espaço ainda menor para constituição de um Estado da Palestina. 
 
 Se se concretizar esta anexação será uma violação do direito internacional e de várias resoluções da ONU. Mais de 100 juristas denunciaram a violação de regras do direito internacional, que proíbem a tomada de território pela força e instou outros países a se oporem ativamente. A anexação israelense de partes da Cisjordânia também “acarreta consequências de ofensas internacionais e – sob certas circunstâncias – leva a responsabilidade criminal internacional individual”, afirmou uma carta assinada pelos profissionais do direito. Uma declaração assinada por quase 50 especialistas declarou como plano ilegal do primeiro-ministro de ampliar a soberania anexando terras palestinas. 
 
 
Na declaração os juristas expressam:
 
“A anexação do território ocupado é uma violação grave da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra, e contrariamente à regra fundamental afirmada muitas vezes pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e pela Assembleia Geral de que a aquisição do território por guerra ou força é inadmissível ”.
A população de Al Makhrour e Cremisan, consideradas como áreas agrícolas dependem para sobreviver, principalmente nas plantações de oliveiras em que estão localizadas. Não apenas suas frutas (azeitonas) são usadas, mas são usadas para fazer óleo, sabonetes e o uso de sua madeira por artesãos palestinos. Al Makhrour, é considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO desde 2004, mas isso não impede que  Israel continue cometendo crimes de guerra, deslocando os palestinos de suas casas e destruindo suas oliveiras, campos, escolas e hospitais.
 
No vale de Cremisan, Israel construiu um assentamento ilegal de Har Gilo. Nesta região um mosteiro construído no século VII de ordem salesiana que apoia os cristãos palestinos também fica ameaçado nesta anexação. O vinho que eles produzem e armazenam é conhecido como um dos melhores da Palestina. Há no mosteiro uma escola que é frequentada por 400 crianças. O que vai acontecer é que o mosteiro e sua escola e terras agrícolas serão separados pelo muro de Israel. Desde agosto de 2015 que Israel arranca árvores para ampliação do seu muro, assim como a construção de um túnel na área de Bir Onah. Teme-se que todo o vale seja fechado com o anuncio da anexação em 1 de julho. 
 
Nesta semana milhares de israelenses e palestinos protestaram contra a anexação da Cisjordânia. Evidencia-se que esta decisão israelense com apoio dos Estados Unidos nos projetos de expulsão e colonização de palestinos é mais um esforço da política norte-americana na execução de uma política colonialista e genocida em parceria com o Estado de Israel.
 
É urgente a necessidade de formamos uma frente ampla de colaboração e solidariedade para o enfrentamento desta barbárie que configura esta anexação da Cisjordânia ampliando o espectro das violências vivenciadas pelos palestinos, a começar pela própria negação da Nakba e das formas usurpadoras de direitos pelos sionistas de plantão com o manejo do primeiro ministro de Israel em colaboração com EUA. 
 
 
 
Francirosy Campos Barbosa Antropóloga, docente Associada ao Departamento de Psicologia da FFCLRP/USP, pós-doutora pela Universidade de Oxford, coordenadora do GRACIAS – Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes. Membro da diretoria do IBRASPAL. 

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