NÃO EM NOSSO NOME: o antissemitismo não pode ser usado como escudo para crimes de guerra
O antissemitismo real — que matou milhões de judeus na Europa — não pode servir de cortina para ocultar outros crimes
Por Mohammed Hadjab, cientista geopolítico e especialista em Relações Internacionais
A acusação da CONIB contra o presidente Lula, por ele ter denunciado o massacre do povo palestino, revela uma tentativa perigosa e recorrente de "instrumentalizar o antissemitismo para silenciar a crítica política e humanitária" diante do que muitos juristas, jornalistas e organizações internacionais já classificam como "genocídio em curso na Faixa de Gaza. Ilan Pappé, Oren Yiftachel, Neve Gordon, Yeshayahu Leibowitz e Raz Segal denunciam, cada um à sua maneira, as políticas israelenses em relação aos palestinos como expressões de lógicas de dominação extrema — alguns, como Pappé e Segal, falando explicitamente de um genocídio em curso, enquanto outros, como Yiftachel e Gordon, apontam para formas de apartheid ou necropolítica, e Leibowitz já alertava sobre uma possível deriva fascista e desumana do Estado israelense.
Essa prática — associar qualquer denúncia dos crimes do governo de Netanyahu ao ódio aos judeus — desvia a atenção da realidade", banaliza o verdadeiro antissemitismo e impede o debate público necessário sobre os crimes cometidos contra o povo palestino.
A história se repete
A história se repete. Como entre 1947 e 1948, quando foi realizado um plano de limpeza étnica sistemática na Palestina — hoje amplamente documentado por historiadores israelenses (Ilan Pappé, Avi Shlaim e Tom Segev) inclusive —, assiste-se a uma nova tentativa de "justificar a destruição de um povo sob o pretexto da segurança e da memória do Holocausto".
Mas defender os palestinos "não é negar o sofrimento judeu. Ao contrário: é justamente em nome da memória histórica, do valor universal da vida humana e do combate a todo tipo de racismo que é preciso se posicionar.
Qual é o verdadeiro antissemitismo?
O verdadeiro antissemitismo do século XXI também se manifesta na "desumanização de um povo semita" — os palestinos —, tratados como obstáculos a serem eliminados por um projeto colonial que, desde sua origem, buscou apagar a diversidade histórica, cultural e religiosa da Palestina.
É irônico que tantos dos que hoje acusam de antissemitismo aqueles que condenam o massacre em Gaza sejam descendentes de colonos europeus que precisaram "hebraizar seus nomes, apagar a presença árabe e cristã da Palestina e impor uma única narrativa sobre uma terra que sempre foi plural".
CONIB, onde está sua memória?
Se a CONIB deseja se posicionar moralmente, que comece por condenar publicamente o "ignóbil Acordo Haavara" — firmado entre a Federação Sionista da Alemanha e o regime nazista em 1933 —, que permitiu a cooperação econômica com o Terceiro Reich enquanto milhares de judeus eram abandonados à morte. Um silêncio vergonhoso que a história ainda aguarda ver reconhecido.
O antissemitismo real — que matou milhões de judeus na Europa — não pode servir de cortina para ocultar outros crimes. E nenhum povo, nenhum governo, nenhum Estado tem direito a praticar o mal em nome de um bem passado.
O mundo vê. E o silêncio diante do genocídio não é neutralidade — é cumplicidade!
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