Nota pública: Brasil e Palestina devem seguir caminho de amizade e paz
O Brasil tem uma longa relação com tudo que se dá na Palestina, embora o povo brasileiro não tenha sido chamado para decidir a respeito
Esta relação nasce em momento no qual a partilha da Palestina era decidida pelas potências coloniais, no imediato pós-guerra, ao final de 1947. Foi em 29 de novembro daquele ano que a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, com o voto brasileiro, a chamada Resolução (de recomendação apenas) da Partilha, de número 181. E foi a partir desta resolução que a tragédia palestina teve início, agravada em 15 de maio de 1948, quando Israel se autoproclama estado, ao arrepio da própria ONU, vindo a promover, nos meses seguintes, uma brutal limpeza étnica, que matou ou expulsou mais de 60% da população milenarmente originária. Considerando apenas os 78% da Palestina histórica naquele ano tomados por Israel, a limpeza étnica correspondeu a 88% da população palestina.
Embora pouco se saiba a respeito das razões do Brasil para aderir à partilha da Palestina, há um dado fundamental que ajuda nesta compreensão: a Presidência, então ocupada por Eurico Gaspar Dutra, adotava uma posição até então inédita na história brasileira, qual seja, a de alinhamento automático, acrítico e incondicional aos EUA. E mais: o então ministro das Relações Exteriores, Raul Fernandes, tinha a mesma posição e a levava a extremos quase fundamentalistas. Logo, adotou-se uma posição em desacordo ao da diplomacia brasileira, inclusive em oposição à visão do diplomata e ex-chanceler Osvaldo Aranha, então presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, a quem foi imposta esta decisão.
Vivemos hoje uma situação análoga à de 1947. Temos um presidente, Jair Bolsonaro, adotando posição equivocada porque viciada pelos extremismo e fundamentalismo, que se alinha e subordina aos EUA, mesmo contrariando a diplomacia profissional do Itamaraty e os interesses econômicos, diplomáticos e nacionais brasileiros. E a própria diplomacia, tal qual a remota de 1947, é hoje comandada por diplomata capturado por visões extremista e fundamentalista, Ernesto Araújo, que, igualmente, contraria todo o Itamaraty e ofende a tradição diplomática brasileira de décadas, e o faz em desfavor dos reais interesses do Brasil.
Em 1947, extremistas contrariaram os interesses brasileiros e a ordem legal internacional para favorecer o que veio a ser um genocídio, uma limpeza étnica de proporções monumentais. Mas, após isso, o Brasil manteve-se firme na ideia da resolução da questão por meio da criação de um Estado Palestino, com Jerusalém sua capital, tendo por parâmetro todas as resoluções da ONU para a Palestina. E neste caminho evoluiu sua posição, governo após governo, fosse militar ou civil, fosse de que partido fosse, de que viés ideológico fosse. Manteve uma política de Estado para sua relação com o mundo até chegar, no ano de 2010, ao reconhecimento da Palestina como Estado Soberano, o que a ONU fez em 2012, reconhecimento este que soma hoje 140 países, e que só não é maior por pressões, chantagens e ameaças dos EUA aos países que pretendam reconhecer a Palestina.
Agora, ao ascender ao poder, novamente, uma visão extremista e fundamentalista, revivemos o alinhamento acrítico com os EUA e mais uma vez a Palestina é a vítima. As anexações territoriais de Israel são reconhecidas com a ideia de transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, momentaneamente trocada por um “escritório de negócios”; Bolsonaro vai ao Muro das Lamentações, em território reconhecido como da Palestina, sem se coordenar com o Governo Palestino e acompanhado de autoridade Israelense, em claro reconhecimento da anexação de Jerusalém por Israel; alinha as posições do Brasil na ONU em favor de Israel, algo inédito, buscando impedir condenações de seus crimes, inclusive criticando com virulência os relatórios do Conselho de Direitos Humanos que os apontam minuciosamente.
Novamente corremos o risco de ver o Brasil – e não seu povo, sua diplomacia profissional, seus partidos, seus homens públicos, civis ou militares – sequestrado por extremistas para lança-lo em apoio a novo genocídio, a nova limpeza étnica na Palestina, à “solução final” aventada por setores extremistas em Israel, e não por seu povo que, malgrado estar confuso, também deseja uma solução que atenda aos dois povos, fazendo cessar o derramamento de sangue inocente.
Não queremos que isso aconteça e acreditamos que o Brasil saberá superar este momento delicado e infeliz em sua política externa, fazendo-a retornar ao seu leito de profissionalismo, de subordinação ao Direito Internacional, o humanitário incluído, de respeito aos tratados e convenções internacionais de que é signatário, às resoluções da ONU, tanto as do Conselho de Segurança quanto as de sua Assembleia Geral e demais órgãos que a compõem, dentre estes o Conselho de Direitos Humanos.
Torcemos e nos empenharemos para que o atual Governo Brasileiro, seu presidente e seu chanceler, ajam com mais equilíbrio em relação à Palestina e passem a nos auxiliar na busca de um caminho de paz, de harmonia, de justiça, do fim da ocupação da Palestina e da realização dos sonhos nacionais dos povos ora em conflito. A Palestina não pode seguir sendo uma terra apenas de muros, dos quais se destaca o do apartheid.
E pedimos que todos os amigos da Palestina e amantes da paz nos auxiliem nesta busca. Estamos certos de que isso será bom, também, para o Brasil e seus mais elevados e legítimos interesses.
Fonte: FEPAL
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