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O que reaproxima Gaza e Cisjordânia após uma década de discórdia

Nas duas regiões da Palestina, partidos adversários chegaram a protagonizar um conflito armado em 2007

Hamas e Fatah, os dois principais grupos políticos palestinos, deram início nesta segunda-feira (2) a um processo de reaproximação com vistas a fortalecer a luta pela criação de um Estado soberano. A reaproximação foi marcada pela visita do primeiro-ministro Rami al-Hamdallah, que é do Fatah, à região da Faixa de Gaza, que é controlada pelo Hamas. A luta pela criação de um Estado palestino soberano depende do fortalecimento da chamada Autoridade Palestina, que é o órgão reconhecido internacionalmente para exercer as funções de governo em toda a região. O fortalecimento da Autoridade Palestina, no entanto, só é possível se a tentativa de reaproximação entre Hamas e Fatah prosperar. Atualmente, o Hamas controla a Faixa de Gaza. E o Fatah controla a Cisjordânia. Ambas são territórios palestinos.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, é do Fatah. Assim como o primeiro-ministro, Hamdallah, que, ao visitar Gaza, estendeu a mão ao Hamas. 

“Estamos aqui para virar a página no assunto da divisão, recolocar o projeto nacional na direção certa e estabelecer o Estado [palestino]” 

primeiro-ministro da Palestina, em visita à Faixa de Gaza em 3 de outubro de 2017 

É a primeira vez desde 2014 que existe algum contato entre os partidos. Em setembro de 2017, o Hamas anunciou que concordava em dissolver seu governo em Gaza, a fim de buscar uma reconciliação e novas eleições em toda a Palestina. O pedido havia sido feito por Abbas, do Fatah.

O Hamas então entregou seus postos no governo de Gaza ao Fatah, para formar um governo de união. Ao viajar para Gaza, o premiê Ramdallah já teve as primeiras reuniões com o novo gabinete.

O Hamas ainda cuidará da área de segurança em Gaza, o que é tido como um ponto sensível do processo, já que o partido defende o uso ostensivo de armamentos contra Israel, posição criticada por potências internacionais.

Ainda existe um receio por parte de analistas internacionais de que essa reconciliação não se consolide, já que desde a cisão entre Fatah e Hamas em 2007, houve tentativas fracassadas de reaproximação.

Uma equipe do governo egípcio acompanha a visita do Fatah à Faixa de Gaza e todo o processo de reconciliação entre os dois partidos.

O Egito é um aliado estratégico porque, assim como a Palestina, tem maioria étnica árabe e maioria religiosa muçulmana, mas historicamente tem relações melhores com Israel e com os Estados Unidos do que a maior parte das nações árabes. É um dos poucos países da região que reconhece a existência do Estado de Israel.

Quais as diferenças entre os dois grupos 
“Hamas” é uma sigla em árabe para Movimento de Resistência Islâmica. O partido surgiu em 1987, no contexto da Primeira Intifada — “intifada” é o nome de origem árabe que se dá às revoltas populares de palestinos contra as forças israelenses. Desde a sua fundação, o Hamas defende uma ação armada contra Israel.

Desde 1997 os Estados Unidos, maior potência militar e econômica do planeta e com ampla atuação no Oriente Médio e mundo árabe, consideram formalmente o Hamas como um grupo terrorista. Israel e a União Europeia também listam o partido entre entidades terroristas.

Em árabe, Fatah é uma sigla para Movimento de Libertação Nacional da Palestina. O partido advém de grupos históricos pela independência da Palestina, ainda na década de 1950, embora como entidade partidária tenha se formado em 1965, portanto mais antigo que o Hamas.



O Fatah também considera que Israel ocupa territórios palestinos ilegalmente, mas historicamente é mais favorável a negociações com Israel a fim de se chegar à paz e a uma divisão territorial. Foi o Fatah, por exemplo, que representou os palestinos nos Acordos de Oslo, de 1993, até hoje o maior acordo entre Palestina e Israel. Foi nessa negociação que surgiu a Autoridade Palestina.

Em 2006, ocorreu uma eleição legislativa na Palestina. O Hamas saiu vitorioso com a maioria dos assentos, mas o resultado não foi reconhecido pelo Fatah, que até então era a maior força política, nem por potências estrangeiras. Desde então não houve outra eleição legislativa na Palestina, algo que os partidos almejam retomar agora com a reconciliação.

Na época, Israel se negou a participar de qualquer negociação com um governo composto pelo Hamas, por considerá-lo terrorista e anti-Israel.



Os desentendimentos internos e a pressão internacional após a eleição levaram a um conflito armado entre Fatah e Hamas em 2007, no qual centenas de pessoas morreram. Isso causou uma cisão na Autoridade Palestina, com o Fatah dominando a Cisjordânia e o Hamas no comando em Gaza, e cada grupo passou a se considerar o legítimo representante do povo palestino. Antes, o governo era um só para as duas regiões.

Desde então, a Faixa de Gaza entrou em conflitos armados com Israel, o último em 2014, com bombardeios em Gaza. Após as guerras e o embargo econômico imposto por Israel como forma de pressionar o Hamas, a situação econômica, social e de infraestrutura em Gaza atualmente é pior do que na Cisjordânia, fator que entrou na conta para que o Hamas cedesse espaço agora ao Fatah.


De onde vem a divisão da Palestina 

A perseguição do governo alemão comandado por Adolf Hitler a judeus e a outras minorias (como negros, ciganos, homossexuais e pessoas com deficiência) levou a milhões de mortes nos anos 1930 e 1940.

Por conta do massacre de judeus, ao fim da Segunda Guerra ganhou força o movimento sionista — corrente que defendia a criação de um Estado judaico, a fim de reunir os judeus espalhados pelo mundo em Israel, território considerado sagrado na religião.

A então recém-fundada ONU (Organização das Nações Unidas), que surgiu com o intuito de promover a paz no mundo pós-guerra, defendeu a criação de um Estado árabe e de um Estado judaico na região. Israel aceitou a resolução, mas os países árabes se opuseram a ela, considerando injusta a partilha do território.



A criação de Israel era apoiada também por potências ocidentais, e o país foi fundado em 1948. No mesmo ano, houve um conflito armado entre israelenses e árabes e Israel saiu vencedor, expandindo seu controle militar sobre a região. Esse movimento se repetiria em 1967, na Guerra dos Seis Dias, quando os israelenses estenderam os limites de sua fronteira, ocupando também partes do Egito, da Síria e da Jordânia.

O território israelense atual é, portanto, maior do que o desenhado originalmente nos anos 1940. Há décadas, o governo israelense tem conduzido e apoiado assentamentos, que são condomínios ou vilarejos construídos em territórios ocupados. Esse locais são monitorados e protegidos por guardas armados e criam tensão entre os dois lados.

Fonte: Nexo jornal

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