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O Bloqueio econômico na Palestina: Uma bomba silenciosa e cruel

Por Gabrielle Gioti

A maioria das pessoas desconhecem o jogo duro da pressão econômica e disputa de poder que alimentam as relações entre Estados, grandes conglomerados empresariais e o pequeno círculo de bilionários cada vez mais ávidos por dinheiro e poder.

Os Estados escolhem seus aliados de acordo com interesses econômicos, políticos, culturais, ideológicos e até mesmo religiosos. Pouco se fala da sangrenta guerra que massacra pessoas inocentes no Iêmen, vitimando milhares de crianças, jovens e adultos, ou ainda, do estado caótico em que a Líbia foi colocada após a queda do governo Central. Menos lembrado que essas duas situações, é o incômodo causado pela antiga Iugoslávia, com taxas de crescimento surpreendentes (antes de seu fim) e a repentina disseminação de ódios, da semente do preconceito (incompreensíveis) e da discórdia que provocaram várias guerras e a fragmentação do País.

A mídia patrocinada por governos e grandes empresas tentam contornar e evitar esses temas, por considerá-los desagradáveis a seus interesses ou de seus patrocinadores, da mesma forma como é indigesto, até para os meios de comunicação, explicar a aniquilação do Reino Independente do Havaí, anexado à força pelos EUA. Não muito longe disso, também é intragável a mídia internacional e as agências de notícias financiadas pelo grande capital, a explicação do por quê Cuba e Nicarágua são as pedras no sapato e estão no meio de disputas travadas por super potências. No geral para resumir temas complexos os alienados tratam de se apressar em seguir frases de efeito, encomendadas com o esse especial fim, de evitar que as pessoas reflitam sobre essas questões.

Para onde quer que se vá, há conflitos, alguns maiores, outros, menores, as motivações podem estar mais aparentes ou ocultas, podem ser conhecidas da maioria ou não. Falamos de alguns conflitos acima, mas poderíamos falar de outros como os que envolvem Taiwan e China, ou de ilhas disputadas pelo Japão e Rússia ao longo de séculos, ou ainda, das ilhas disputadas pelo Japão e EUA até pouco atrás. O verdadeiro jogo do Poder é oculto à maioria das pessoas.

 

Mas e a questão Palestina?

Por que se quer nos questionamos sobre os cruéis e desumanos efeitos dos embargos econômicos que à Palestina?

Por que nossos olhares, nossas atenções se voltam a Palestina apenas no momento em que a mesma esta sendo bombardeada?

No ano de 2016 o jornalista Mohammed Omer em seu livro “ Em Estado De Choque: sobrevivendo em Gaza sob o ataque israelense”, nos traz um relato, sobre a luta que o povo palestino vem empreendendo em um contexto que lhe falta o básico para a sobrevivência.

Os palestinos hoje possuem apenas permissão de navegarem em um raio de 6 milhas náuticas, número este, muito longe das habituais 20 milhas. Tal contexto se assevera, visto que a pesca é uma das principais fontes de renda e alimentos deste povo. No ano de 2018, alguns pescadores palestinos que tentaram furar o bloqueio criado por Israel e foram recebidos com tiros de advertência. Em razão desta realidade de limitações, não apenas na pesca, mas em todos os campos econômicos, 43% da população palestina se encontra desempregada, 40% vive abaixo da linha da pobreza e 60% em condições de insegurança alimentar.

Diversos fatores contribuem para a escassez de alimentos no território palestino, além do controle israelense, uma das principais razões para a falta de mantimentos se dá pelos bombardeios que acabam com as poucas plantações, e pelo medo da população em sair em campo aberto para colher o que a terra oferece ou pode produzir. Com o céu cheio de drones e aviões de caças é necessário ter uma vontade de ferro para colher o que plantou, relata Omer.

Além disso, não é difícil imaginar os riscos de uma empresa de alimentos que tenha demandas em várias partes do mundo, caso ela opte por fazer a entrega de produtos em locais sob constante riscos de conflitos ou confiscos de mercadorias por outros países. Certamente, a preferência de qualquer empresa será a de correr menores risco.

 

A liberdade da população palestina vem sendo reduzida dia a dia e, até mesmo seus movimentos tem de ser limitados, o medo (ou pânico em alguns) como já ficou claro, é constante. Um dos últimos comerciantes de frutas e vegetais da faixa de gaza relata: “nos últimos anos a loja está deserta, as pessoas estão com medo de sair de casa para comprar o básico”, em um dia normal Jarwsha fatura centenas de siclos, como é chamado o novo shekel israelense, a moeda corrente em Israel e uma das três que é utilizada em territórios palestinos. O período de Ramadã é o nono mês do calendário islâmico, no qual a maioria dos muçulmanos pratica o seu jejum. É uma data de extrema importância para os mulçumanos, não só pela cultura e pelo ato religioso, mas também pelo fato de fazerem apenas uma refeição por dia, limitando o gasto com alimentos.

Nos ataques de Israel sobre a Palestina não são destruídos apenas prédios e plantações, mas também, o sistema de água e esgoto, situação que é vista pelo povo palestino como uma punição coletiva, o que nos remete a Foucault em sua obra: “Vigiar e Punir”, quando, em seus escritos, destaca que em cada contexto, a humanidade criou suas próprias leis, se utilizando de distintas formas de punição, punições estas que vão das físicas, as psicológicas e/ou a aplicação de normas humanitárias que expõem o povo repreendido a barbárie, taxando tais como delinquentes, terroristas e/ou uma ameaça a sociedade.

 

Na prática o contexto a que é submetido a população palestina sobretudo as crianças é na verdade é uma prática de terrorismo psicológico utilizado em hoje em várias partes do mundo, na tentativa de desumanizar o humano e a humanidade. A humanidade que existe em cada um, a possibilidade de empatia e compaixão está sendo sufocada, por preconceitos e jargões, repetidos como mantras todos os dias.

Os ataques ao povo palestino são prova contundente da desumanização e das punições coletivas a que estão submetidos, o saneamento básico está entrando em colapso, o reflexo futuro disso será a proliferação de doenças, e quem mais sofre com essas doenças, são as crianças. Aproximadamente 13 estações de esgoto da Faixa de Gaza estavam inundadas ou próximas de uma inundação, 100 milhões de litros de esgoto sem o devido tratamento estão indo para no mar mediterrâneo causando também um problema ambiental, todos os dias.

Mesmo os judeus de todas as partes do Mundo reconhecem o drama da atuação situação do povo palestino. A bem da verdade em meio ao conflito militar, a maioria das vítimas de ambos os lados são civis, boa parte das quais crianças e mulheres. Nesse cenário é quase impossível falar em desenvolvimento e bem estar humano.

ENERGIA BOICOTADA

Não bastasse toda essa realidade vivenciadas pelos palestinos, os mesmos têm também de conviver com a falta ou racionamento de energia elétrica, são aproximadamente de 12 a 18 horas diárias sofrendo com o problema de escassez de energia, em uma região em que as temperaturas chegam a 40º graus.

A falta/racionamento de energia elétrica traz ainda outra consequência, a inutilização de determinados alimentos, tornando-os impróprios para o consumo humano (carnes, frutas, leite, entre outros. Um açougueiro de Gaza relata: “Vender carne, agora, até mesmo fiado, é melhor que vê-la estragando quando as geladeiras são desligadas”, diz Hamza Al-Baba, em entrevista ao jornalista Omer.

 

Como tática de guerra, e isto não é nenhuma novidade, a primeira infraestrutura a ser atacada, é a de telecomunicações, o objetivo é claro, impedir/dificultar a utilização de tais meios para divulgar informações sobre ataques e possíveis retaliações. O exército israelense emite um alerta ou dispara “tiros de aviso”(conhecido como destruidor de tetos) – um artefato falso cai sobre as casas alertando que o verdadeiro míssil está a caminho.
Não são apenas as pessoas e os comerciantes que sofrem com os constantes ataques e com o bloqueio econômico. Após os tiros de aviso, misseís cruise F-16 caem sobre prédios e os principais bancos, instituições oficiais da Palestina e os serviços públicos precisam ficar fechados. O que significa a interrupção das atividades, sabotando a economia de Gaza. A inflação ficou descontrolada após a operação Margem Protetora em 2014 (os piores ataques dos últimos anos), a estimativa era que Gaza demoraria 20 anos para se reerguer, mas após 7 anos os conflitos trouxeram novo rastro de destruição.

SAÚDE MENTAL

Todo este contexto de ataques, bombardeios, bloqueio marítimo, escassez de alimentos, falta de energia, entre tantas outras consequências provocadas pelos ataques israelenses têm levado a população palestina ao desenvolvimento de graves sintomas de depressão clínica, a percentagem gira em torno de 55% da população com tal doença mental, lembremos pois, que as patologias mentais pode levar ao desenvolvimento de outras patologias.

E não podemos nos enganar, não são apenas os adultos que sofrem com a realidade aqui relatada. Segundo a UNICEF, 91% das crianças entrevistadas em Gaza possuem problemas para dormir, 85% apresentavam dificuldades para se concentrar e 82% desenvolvem sentimentos de raiva e tensão mental. A UNRWA(A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina), alerta que a taxa de transtornos pós-traumáticos aumentou em 100%, o termo “trauma” por si só não é suficiente para descrever o que vem acontecendo em Gaza, o trauma é resistente. O médico palestino Ahmed Abu Tawahinah descreve; “trauma é um termo que se usa no Ocidente, referindo-se a situações normais em que acontece um colapso nervoso. Esse colapso é o trauma, mas para nós, palestinos, o trauma é a vida cotidiana”.

 

Por Gabrielle Gioti

via AZ-Agência de Notícias

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