Oh Jerusalém
É difícil entender o que está por trás da decisão do presidente Trump de validar a violação do direito internacional, uma vez que Israel de fato declarou Jerusalém em 1980 como seu capital eterno e indivisível, que foi deslegitimado por meio de resoluções das Nações Unidas, como 476.
Essa decisão do Pentágono novamente coloca o mundo muçulmano na guerra contra essa decisão arbitrária que só pode significar mais caos, ingovernabilidade e injustiça no Oriente Médio, uma grande insegurança em nível global.
Como entender essa ação dos Estados Unidos, haverá motivações - interesses - da indústria de defesa dos EUA? É uma incapacidade cognitiva de entender que ela está indo na direção oposta à estabilidade mundial? Ou simplesmente decidiu honrar a palavra, da campanha concedida ao sionismo, independentemente do seu custo político?
Além de uma resposta a estas perguntas, a decisão por parte da Casa Branca tem efeitos sobre a legitimidade da Carta das Nações Unidas, que apesar de ter sido insultada em várias ocasiões como a Guerra do Iraque de 2003, e em outros episódios (infelizmente demasiados) como a ocupação da Crimeia nas mãos dos russos, ou a flagrante violação do direito dos refugiados na sequência dos acordos entre a União Europeia e a Turquia, a ação do Presidente dos Estados Unidos ultrapassa um limiar que em nenhum caso indiferente àqueles que sentem que o Ocidente, mais uma vez, está fazendo imposições sobre os países muçulmanos, o que terá um impacto da geopolítica, relações religiosas e credibilidade do regime internacional. Ou seja, a ação de Trump sem dúvida trará complicações à agenda de segurança e legitimidade do sistema internacional.
A atual situação global, em que os líderes mundiais parecem mais comprometidos com suas contas bancárias pessoais em paraísos fiscais, não é propícia a mediar nesses momentos antes de uma decisão provocativa, que tenderá a isolar mais os Estados Unidos, que não poderão continuar sendo mediação ou ator de arbitragem para o problema palestino - israelense. Possivelmente, após a abertura da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, os acordos de Oslo devem ser desmantelados, mantendo o "obrigado"? ao processo de negociação que não levou a nada em favor dos palestinos, e que de alguma forma facilitou a anexação de Israel de mais território através dos assentamentos ilegais.
Com efeito, o processo de negociação "garantido" pelos Estados Unidos concluiria com a concessão de fato a Israel de Jerusalém, violando a norma internacional e acabando com qualquer aparência de equidade por parte de um sistema das Nações Unidas, que não tem capacidade para impor normas decisivas. Isto é, esta decisão traz consigo o fim da ordem pós Segunda Guerra Mundial.
A situação descrita intensificará o fato de que os estados apostam quase exclusivamente nas agendas de segurança, que abrigam o interesse de salvaguardar sua posição no contexto de um mundo confuso e mais hostil, em vista de sua autodefesa.
A esse respeito, provavelmente as razões que levaram a reconhecer Jerusalém como a capital de Israel não justificam suas conseqüências, como a construção de um lar judaico excluindo outras religiões, o que afeta não apenas o direito dos palestinos de algum dia ser Estado soberano, a fim de exercer sua liberdade e direitos violados, mas também apresenta uma ofensa à comunidade muçulmana que tenderá a se opor a qualquer interesse mútuo entre a Casa Branca e as dinastias árabes, pois será muito difícil para seus governos sufocar a indignação com a ocupação unilateral de Jerusalém.
Essas decisões arbitrárias deslocaram o humanismo, tanto em seus aspectos seculares quanto cristãos. Em primeiro lugar, porque não articulam respostas que permitam a reorientação do comportamento do Estado dentro da esfera da moralidade/ética, isto é, um sentido de proteção e difusão das pessoas e sua dignidade. Pelo contrário, a lógica única das relações de poder é instalada novamente.
A perda de consenso no final da Segunda Guerra Mundial é evidente, a desconfiança dos Estados nas organizações internacionais o apóia, por isso estamos nos aproximando, através dessas decisões, de uma decomposição do atual regime internacional. Sendo este o prelúdio de uma reedição de um sistema internacional anárquico.
Fonte: Jaime Abedrapo, Diretor da Federacão Palestina do Chile
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