Parem com o massacre contra o povo palestino!
"Texto originalmente publicado no site em português do Jornal Pravda.Ru em 14/01/2009 denunciando a operação "Chumbo Fundido" que, em apenas 22 dias, deixou 1.434 palestinos mortos em Gaza. Esse "modus operandi", praticado pelos governantes de Israel com o apoio financeiro dos EUA, novamente se repete em círculo vicioso. Porém, faz-se necessário relembrar palavra por palavra deste apelo que nós, da diáspora árabe-palestino-brasileira, seguiremos fazendo incansavelmente. Sanaúd! [Voltaremos!]"
Por Amyra El Khalili
É importante esclarecer à opinião pública que esta é uma ofensiva declarada sem fronteiras, não somente contra a população da Faixa de Gaza, mas efetivamente contra o povo palestino e a sua causa. É uma ação deliberada e sincronizada contra o processo de paz. Ocorre, fundamentalmente, por omissão e ação, à revelia do direito internacional. Trata-se definitivamente de um genocídio.
Diferentemente do que prega a mídia corporativa do Ocidente, que usa como desculpas o Hamas (grupo de resistência legitimamente eleito pelo voto) por lançar torpedos-sucata, a verdadeira causa desta tragédia é a ocupação dos territórios palestinos que já dura mais de 41 anos. Esta longa agonia traz, como consequência, além da extrema pobreza, da desesperança dos jovens, da humilhação de mulheres, crianças e idosos, da opressão dos homens, tantas mortes e angústias. E agora, com essa barbárie injustificável, fica mundialmente exposta a truculência do governo israelense.
Nada justifica esta chacina! Absolutamente nada!
Estamos recebendo centenas de cartas, e-mails e manifestações de solidariedade e engajamento na luta pela emancipação e reconhecimento do Estado Palestino. As camadas mais humildes da sociedade identificam na causa palestina também seus sofrimentos e carências, seus direitos à terra, à água, à saúde, à escola e ao meio ambiente. Este é um sinal de que está viva a consciência humanitária. Existem seres humanos com sentimentos e profundo senso de responsabilidade que não se calarão. No mundo inteiro eclodem manifestações em favor do povo palestino.
O povo palestino é a prioridade. O povo palestino deve ser imediatamente socorrido para que seja possível permitir a ajuda humanitária que lhe é solidariamente ofertada. Também é necessário que se envidem todos os esforços para minimizar os impactos, praticamente irreversíveis, desta chacina.
Portanto, exigimos que parem com o massacre contra o povo palestino!
A causa palestina transcendeu fronteiras, religiões, grupos étnicos, classes sociais. Essa impressionante onda de solidariedade é transfronteiriça, transcontinental e transracial. Passou a ser “a causa das causas” dos direitos humanos, pois todo mundo se coloca no lugar dos palestinos. No mundo há palavras de ordem em defesa de nosso povo, com o chamamento: “Somos todos Palestinos!”
Esta agressão sem medidas estava programada há meses. O governo de Israel aproveitou-se de um vácuo político nos EUA - a passagem do poder que coincidiu com o feriado e as festas de fim de ano -, e da proximidade das eleições. Sem dúvida alguma, a administração Bush, que compactua com este genocídio, estava maquinando estas operações, apenas à espera de uma oportunidade, um “pretexto”.
Também foi uma chance para que o complexo industrial militar de última geração tecnológica experimentasse seus novos armamentos. A indústria bélica precisava demonstrar sua “eficiência” para, posteriormente, promover e vender suas novas armas ao resto do mundo incitado. É a indústria da guerra que usa o povo palestino como cobaia no maior campo de concentração a céu aberto do Planeta, em pleno século XXI.
Os EUA têm usado frequentemente seu poder de veto nos principais fóruns internacionais para impedir uma solução na questão palestino-israelense. Consequentemente, tem estimulado ainda mais a agressividade de Israel. Os Estados Unidos deveriam, precisamente por sua condição de superpotência, atuar pela paz mundial. Infelizmente, faz justamente o contrário!
Apesar dessa artimanha, o mundo está assistindo ao vivo, por diversos meios de comunicação alternativos, a este crime hediondo, e o está denunciando.
Não há dúvida de que se estão cometendo flagrantes violações aos direitos humanos, de que estão assassinando crianças, mulheres, idosos e civis, em sua grande maioria. Não há dúvida de que se estão utilizando armas químicas, proibidas pelo direito internacional. Para desfazer dúvidas, se ainda as houvesse, os fatos são comprovados por centenas de fotografias e vídeos, além do testemunho de médicos e agências humanitárias. As vítimas se amontoam em hospitais, jogadas pelos cantos como se fossem carcaças de animais abatidos.
Este não é um, nem o primeiro massacre. É um entre dezenas de outros - como os de Deir Yassin, Sabra e Chatila, Kibya, Lod, Ramleh, Samouh, Kafr Kasem, Jenin. Pior, massacres tornaram-se prática constante dos sucessivos governos israelenses. Temos esperança de que este seja o último para encerrar, de uma vez por todas, essa vergonha.
Israel deve convencer-se de que, mesmo usando a força bruta das armas, o povo palestino jamais abandonará suas justas reivindicações. Jamais renunciará ao seu direito à autodeterminação, ao seu direito individual e coletivo, à criação do Estado Palestino independente, livre e soberano, tendo Jerusalém como capital.
O único caminho é a implementação da Questão Palestina, nos termos já reconhecidos pela comunidade internacional. Postergar estas medidas, porém, significará mais rancor, mais ódio, mais violência e centenas de vítimas, com sucessivos massacres, reações e sentimentos que somente alimentam o extremismo.
O mundo está pressionando por uma solução baseada no direito internacional. O mundo, horrorizado, clama por uma solução sensata.
Dois Estados para dois povos: esta tem sido a vontade popular legítima, amplamente discutida entre israelenses e palestinos, e por isso tem que ser respeitado, a despeito do que pensem sobre os fracassos de iniciativas pela paz e de manifestações pacifistas em repúdio a mais este famigerado massacre e seus interesses inconfessáveis e negócios espúrios.
Nota:
Documentário que mostra o trabalho de Amyra El Khalili com o Movimento Mulheres pela P@Z! da série MICRO DOC. Realização: Micro Mundo, 2009, Brasil. Direção: Buca Dantas. Finalização: Matyeu Duvignaud. Assista em: https://www.youtube.com/watch?v=E2ZutMOzRPA
Amyra El Khalili é beduína palestino-brasileira, da linhagem do Shayk Muhammad al-Khalili*. É professora de economia socioambiental e editora das redes Movimento Mulheres pela P@Z! e Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras. É autora do e-book “Commodities ambientais em missão de paz: novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe”.
*Shayk Muhammd al-Khalili - Nascido no primeiro mês muçulmano de Shaban do Hijra do ano 1139, que corresponde ao ano A.D. 1724, era o líder da Irmandade Qadiri Sufi e talvez o “homem santo” mais famoso do seu tempo na Palestina.
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