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"Porta-voz dos colonos": embaixador dos EUA diz que Israel tem o direito de anexar partes da Cisjordânia

David Friedman, embaixador dos EUA em Israel, disse numa entrevista publicada neste sábado no New York Times que o Estado sionista tem o direito de anexar pelo menos "parte" da Cisjordânia ocupada.

Os palestinos condenaram de imediato as declarações de Friedman, que é há muito um férreo defensor dos colonatos, tendo dirigido antes de ser nomeado embaixador a organização sionista Friends of Bet El, que financia colonatos construídos em terras palestinas roubadas.

Saeb Erekat, secretário-geral do Comité Executivo da OLP, afirmou que as declarações de Friedman evidenciam que a sua visão, que compartilha com o presidente dos EUA, Donald Trump, é "a anexação do território ocupado, que é um crime de guerra segundo o direito internacional".

Mustafa Barghouti, outro dirigente palestino, disse que as declarações de Friedman não são surpreendentes, porque "Friedman foi identificado há muito tempo como o porta-voz dos colonos".

"Em certas circunstâncias", afirmou o embaixador na entrevista, "acho que Israel tem o direito de reter parte, mas provavelmente não toda, a Cisjordânia."

A Cisjordânia é um dos territórios palestinos — além de Jerusalém Oriental e da Faixa de Gaza — que foram ocupados militarmente por Israel durante a chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967. Em violação das resoluções da ONU, Israel mantém essa ocupação há 52 anos, como aliás acontece com os Montes Golã sírios, ocupados na mesma altura. Os EUA reconheceram recentemente a anexação destes, o que muitos comentadores encaram como um prenúncio da sua aceitação da anexação por Israel dos territórios palestinos.

Friedman não especificou na entrevista a que partes do território palestino se referia. Porém, durante a campanha eleitoral para as eleições de Abril passado, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de anexar os colonatos israelitas existentes na Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental), onde habitam mais de 600 000 israelitas judeus e que são considerados ilegais pelo direito internacional.

David Friedman declarou também ao New York Times que o chamado "acordo do século" promovido pelo governo de Trump visa melhorar a qualidade de vida dos palestinos, mas ficaria aquém de uma "resolução permanente do conflito".

Ora os palestinos têm repetido que aquilo que querem é acabar com a ocupação e não uma vida melhor sob a ocupação. "A única solução que garantirá segurança e dignidade para israelitas e palestinos", como  afirmou Ayman Odeh, do partido israelita anti-sionista Hadash, "é o fim da ocupação e a criação de um país palestino independente ao lado de Israel. A anexação unilateral é um crime de guerra."

Segundo versões filtradas para a comunicação social do "acordo do século", cujo conteúdo ainda não foi oficialmente revelado, Israel anexaria os colonatos e manteria o "controlo de segurança" de toda a Cisjordânia, deixando aos palestinos pequenas "ilhas" isoladas umas das outras, num grotesco simulacro de Estado.

 

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