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Sabra e Chatila, 40 anos depois

Saiba o que foi o evento que mudou a história da resistência palestina - e seus efeitos na diáspora palestina do Brasil.

Sabra e Chatila, 40 anos depois

Saiba o que foi o evento que mudou a história da resistência palestina - e seus efeitos na diáspora palestina do Brasil.

 

Entre 16 e 18 de setembro de 1982, no contexto da Guerra Civil e da invasão israelense ao Líbano, ocorreu o massacre de Sabra e Chatila. Entre 2000 e 3000 pessoas foram cercadas e covardemente executadas pelo exército invasor israelense e pelo movimento Falangista, uma milícia fascista cristã aliada dos invasores sionistas.

 

O que foi o massacre?

 

Sabra e Chatila eram campos de refugiados palestinos na região de Beirute. Ali viviam civis libaneses e refugiados palestinos, ambos assassinados pela aliança Israel-Falangistas. 

Naquele momento, o Líbano estava mergulhado numa guerra civil que envolvia toda a região. A motivação do massacre foi o assassinato de Bashir Gemayel, líder dos Falangistas, por membros de um movimento nacionalista sírio, que tinha na Falange e em Israel inimigos em comum com a Resistência Palestina.

O movimento Falangista foi fundado por Pierre Gemayel, pai de Bashir e entusiasta de Adolf Hitler. Os Falangistas eram uma milícia fascista composta por libaneses de extrema-direita da comunidade cristã maronita.

Sabra e Chatila foi a vingança dos Falangistas que, covardes como são todos os fascistas, optaram pelo massacre de mulheres, idosos e crianças palestinas indefesas. Contou ainda com a proteção de Israel, que cercou os campos de refugiados para que os palestinos não pudessem fugir ou ser socorridos.

O massacre de Sabra e Chatila chamou a atenção do mundo por seu horror, numa época em que as guerras começavam a ser transmitidas para todo o planeta pela televisão. A Assembleia Geral das Nações Unidas repudiou o massacre, descrito como um ato de genocídio. Até hoje, Israel jamais respondeu por sua participação neste ou em qualquer outro de seus muitos crimes.

O então ministro da defesa (sic) de Israel, Ariel Sharon, teve papel importante no massacre. Investigações provaram que o exército israelense sabia do que estava acontecendo ao longo dos dias de massacre. Sharon foi considerado culpado pela colaboração com a Falange e perdeu seus direitos políticos. Vinte anos depois, o "açougueiro de Beirute" era eleito primeiro-ministro do Apartheid israelense.

 

Por que Israel se meteu na guerra civil libanesa? Por que os Falangistas mataram civis palestinos?

 

Israel se envolveu na guerra civil libanesa com a intenção de exterminar a resistência armada palestina, que então tinha seu foco no Líbano. A sede da OLP, do Fatah, da Frente Popular e demais movimentos de resistência era em Beirute. Para atingir esse objetivo, Israel entrou informalmente na guerra ao lado da extrema-direita cristã libanesa. Ambas tinham aliados e inimigos comuns. Apoiados por Europa e Estados Unidos, os terroristas israelo-falangistas objetivavam destruir as organizações que compunham uma aliança de movimentos pan-arabistas e antiimperialistas – da qual a OLP era parte importante.

Israel conseguiu expulsar a OLP do Líbano, desestruturando a resistência armada palestina na região. A organização se mudou para a Tunísia, de onde não mais exercia a mesma influência. Em 1987 ocorreria a Primeira Intifada, movimento independente de jovens palestinos que tomaram para si a luta que a OLP tinha dificuldade de liderar à distância. Nessa época, surgem novas organizações que transformaram para sempre a política palestina – o Hamas é a mais famosa delas.

O Líbano, por sua vez, ainda hoje vive as consequências de um conflito fratricida. Uma economia em frangalhos, uma sociedade belicosa e religiosamente mais dividida do que nunca. Até 2000, partes do sul do Líbano ainda eram ocupadas por Israel. A ocupação sionista foi finalmente derrotada e expulsa de território libanês apenas em maio de 2000, após anos de heróica resistência do Hezbollah.

 

As consequências políticas de Sabra e Chatila: o caso brasileiro

 

Sabra e Chatila foi um massacre que afetou toda a comunidade palestina, com efeitos importantes sobre a diáspora. As imagens do genocídio, transmitidas para todo o mundo, chocaram a comunidade internacional. No Brasil não foi diferente.

O Brasil passava por um momento de transição democrática; a sociedade civil começava a se organizar politicamente após décadas de ditadura militar. O Escritório da OLP no Brasil, aberto em 1974, e o surgimento da FEPAL representaram o primeiro momento de efetiva organização da diáspora palestina no país. A OLP e a FEPAL trabalharam nesse período para reconstruir os laços entre as comunidades palestinas do Brasil e formar politicamente suas lideranças.

Em 1982 há um ponto de virada no crescimento do movimento palestino no país. Em São Paulo, centro econômico do Brasil e lar da maior parte da numerosa comunidade libanesa no país, ocorria o II Congresso Palestino do Brasil. Com Sabra e Chatila, parte da comunidade libanesa se soma ao movimento pró-Palestina – afinal eram, naquele momento, ambos ocupados por Israel.

Inspirados pela necessidade de lutar pelos direitos do povo palestino, jovens palestinos e aliados libaneses fundaram em 1982 a Associação Cultural Sanaúd. Ver os horrores de Sabra e Chatila foi o evento crítico que compeliu a nova geração de palestinos à luta. A exibição de um filme homônimo gravado na Palestina e exibido no Brasil no mesmo ano foi a inspiração para o nome do movimento de juventude palestina que existe até hoje e que formou algumas das principais lideranças palestinas no Brasil.

Sanaúd – voltaremos, em árabe – passa a ser o lema de uma geração do movimento palestino, que se formou com as retinas queimadas pelas imagens coloridas de uma violência da qual só haviam ouvido falar, através das memórias de seus pais.

Em 1984, ocorreu o Congresso Palestino Latinoamericano e Caribenho de São Paulo, que fundou a COPLAC, entidade latino-americana e Caribenha dos palestinos em diáspora, e transforma a Sanaúd num grupo com membros em todo o país. A COPLAC se reuniu novamente em 1987, em Campinas, no bojo da Primeira Intifada, reunindo palestinos de todo o continente – principalmente jovens.

Esses congressos foram fundamentais para o fortalecimento e articulação dos movimentos palestinos da América Latina, existentes até hoje. A força da juventude levantada pelos mártires de Sabra e Chatila foi decisiva para que a diáspora se organizasse em luta pela libertação de todos os palestinos.

Sabra e Chatila lançou uma onda de choque, de revolta e de desejo de transformação por todo o mundo. O sangue dos palestinos mortos ali não foi em vão – seu martírio fez com que a juventude da diáspora se levantasse em todo o mundo, principalmente nas Américas. As sementes plantadas em 1982 deram vida a um movimento sólido, que segue florescendo e dando frutos.  Pois, como canta Don L,

 

​eu que sou de onde a miséria seca as еstações

​vi a primavera florescеr entre os canhões

​e não recuar

​eu que sou de guerra

​dei o sangue na missão ​de regar a terra

​s​e eu tombar vão ser milhões pra multiplicar

​a única luta que se perde é a que se abandona e nós nunca

​nunca abandonamos luta

​nunca nunca

Primavera – Don L

 



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    postado por: Caio Porto
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