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Sionismo e Nazismo, duas faces da mesma moeda - Por Sayid Marcos Tenório

Israel utiliza os horrores do Holocausto em seu benefício e como forma de chantagem contra o mundo, enquanto oculta que o movimento sionista tenha colaborado ativamente com o inimigo mais feroz que os judeus já tiveram

Desde o encontro de Bolsonaro, e outras figuras do seu governo e entorno, com a deputada e líder do partido de extrema-direita, e considerado neonazista, Alternativa para a Alemanha (AfD), Beatrix von Storch, neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler, Lutz Graf Schwerin von Krosigk, muitos têm questionado sobre as contradições existentes nesse encontro, uma vez que Bolsonaro, embora useiro de atitudes fascistas e da simpatia pelo nazismo, é um fervoroso defensor de Israel, o estado judeu de apartheid incrustrado no Oriente Médio.

O movimento sionista, criado no final do século XIX, embora formado por judeus, sempre teve proximidade com os nazistas alemães. Essa relação é ocultada desde sempre pelas lideranças e, principalmente, pela historiografia oficial de Israel, que utiliza os horrores do Holocausto em seu benefício e como forma de chantagem contra o mundo, quando se sabe que não foram mortos apenas judeus nos campos de concentração nazistas da Europa.

A relação entre nazistas e sionistas não está apenas na coincidência do uso de camisas pretas pelo bando fascista de Benito Mussolini, na Itália, e pelos esquadrões do movimento juvenil Sionistas Revisionistas Betas, fundado em 1923 na Letônia e chefiado por Menachen Begin, que viria a ser o sexto primeiro-ministro de Israel, em 1977.[1] O Movimento adotava o uso de camisas marrons em suas reuniões e manifestações, as mesmas utilizadas belos bandos nazistas de Adolf Hitler na Alemanha.

É bom lembrar de dois episódios que atestam essa ligação de sionistas com nazistas. O primeiro foi em 1933, quando o 18º Congresso da Organização Mundial Sionista, realizado em Praga, rejeitou, por 240 votos contra e 43 a favor, uma resolução que conclamava a atuação do movimento contra Hitler. Depois desse Congresso e com a esmagadora derrota da moção contra Hitler, a Organização Sionista Mundial rompeu o boicote judeu e se converteu no principal distribuidor de produtos nazistas em todo o Oriente Médio e no Norte da Europa.

O outro episódio dessa estranha relação foi quando os sionistas levaram o expoente do Serviço de Segurança (SS) nazista, Leopold Von Mildenstein (1902-1968), para uma visita à Palestina em 1934. Dessa visita resultou um longo relatório recheado de elogios ao sionismo, publicado pelo jornal nazista Der Angriff (O Assalto, em alemão), criado pelo ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebels, que ordenou que se cunhasse uma medalha comemorativa ao evento, com a suástica nazista, em uma face, e a estrela de Davi, na outra.

O escritor estadunidense Ralph Schoenman, na obra A história oculta do sionismo (2008), relata vários episódios da história em que lideranças do movimento sionista mundial preferiram se associar aos nazistas, a desenvolver qualquer iniciativa para proteger os judeus do extermínio nos campos de concentração na Europa. Ele escreveu: “em lugar de demonstrar compaixão, os sionistas celebraram a perseguição de outros, mesmo quando eles, primeiro, traíram os judeus e, depois, os degradaram. Eles escolheram para si um povo vítima, a quem pudessem infligir um projeto de conquista.”[2] O autor também acusa os sionistas de colaborar “com os piores perseguidores dos judeus durante o século XIX e século XX, incluindo os nazistas.”[3]

Nazismo e sionismo são ideologias de direita

O sionismo é uma ideologia de direita que se apropriou do judaísmo como forma de dar sustentação às suas teses racistas e supremacistas, quando sabemos que nem todos os judeus são sionistas ou apoiam as atrocidades de Israel. Surgiu apoiado em teses fantasiosas, entre elas a de “uma terra sem povo para um povo sem terra”, tendo como base as teorias defendidas por Theodor Herzl no livro O estado judeu, de 1896, no qual o autor advoga pela existência de um lar para os judeu, onde supostamente teria existido o “Reino de Israel”, ou seja, na Palestina.

A Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a aprovar, em 1975, a Resolução nº 3.379, que assemelha o sionismo ao racismo. Essa resolução foi revogada em 1991, por lobby judeu e do governo dos Estados Unidos. Sendo o sionismo uma ideologia racista e supremacista judaica, que pratica um apartheid contra o povo palestino, a meu ver, não pode haver, no seu interior, nenhum posicionamento de esquerda. Logo, o chamado sionista de esquerda é uma enorme contradição.

Apesar dessa colaboração registrada pela história e que a propaganda de Israel não pode apagar, sionistas fazem uso conveniente dos horrores do Holocausto contra judeus, ciganos, comunistas, deficientes, mestiços, homossexuais e opositores do regime de Hitler, com o nítido interesse de deturpar os fatos e criar uma cortina de fumaça ideológica em seu favor. Filkenstein atesta que “o movimento sionista, que sempre invoca o horror do Holocausto, tenha colaborado ativamente com o inimigo mais feroz que os judeus já tiveram.”[4]

O que nos chama à atenção é o fato de muitos judeus, no mundo inteiro e particularmente no Brasil, continuarem mantendo uma linha tênue com nazistas e seus assemelhados, como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. E isso impressiona não apenas pelo presidente ter recebido, com pompa e circunstância, uma deputada nazista no gabinete presidencial, mas pelos inúmeros exemplos de semelhança entre o discurso de Hitler e o de Bolsonaro.

Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro foi recebido efusivamente no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, onde, entre outros absurdos racistas contra quilombolas, disse que as minorias “ou se adequam ou desaparecem”. Apesar disso, muitos judeus votaram em Bolsonaro e continuam apoiando e fazendo parte do seu governo.

As semelhanças históricas, políticas e comportamentais fazem cair por terra o mito de que os sionistas e o estado judeu de Israel são o legado moral do Holocausto. Na Alemanha das décadas de 1930 e 1940, os sionistas se aliaram, fizeram acordos e colaboraram com os nazistas, quando os judeus tinham sua existência ameaçada. E, no Brasil, associam-se a Bolsonaro, um sujeito que flerta com o nazismo, conforme descobertas da antropóloga Adriana Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).[5]

 

Sayid Marcos Tenório é historiador e especialista em Relações Internacionais. É vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) e autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal, 2019. 412 p). E-mail: sayid.tenorio@uol.com.br - Twitter: @HajjSayid

 

NOTAS

[1] TENÓRIO, Sayid Marcos. Palestina: do mito da terra prometido à terra da resistência. 1. ed. São Paulo: Anita Garibaldi, IBRASPAL, 2019. p. 99.

[2] SCHOENMAN, Ralph. A história oculta do sionismo. A verdadeira história da formação do Estado de Israel. São Paulo: Sundermann, 2008. p. 119.

[3] Revista Teoria & Debate, Fundação Perseu Abramo, n. 5, janeiro/fevereiro/março 1989. Disponível em: https://teoriaedebate.org.br/1989/01/01/mitos-em-queda/. Acesso em: 15 ago. 2021.

[4] FINKELSTEIN, Norman. A indústria do Holocausto: reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus. São Paulo: Record, 2001. p. 13.

[5] The Intercept Brasil. Disponível em: https://theintercept.com/2021/07/28/carta-bolsonaro-neonazismo/. Acesso em: 15 ago. 2021.

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