Solidariedade às mulheres palestinas e à palestina-brasileira Nádia Hussein
Por Lúcia Helena Issa
A tarde cai no Rio de Janeiro, um temporal anuncia a chegada definitiva do outono enquanto arrumo as malas para uma pequena viagem, mas sinto-me imensamente triste pelo episódio ocorrido ontem na Câmara Municipal de Salvador, Bahia.
No exato momento em que o Exército de Israel volta a atacar crianças e mulheres palestinas em Gaza, em que a ONU alerta o mundo para o colapso humanitário e social em Gaza depois de mais de 10 anos de um bloqueio israelense considerado imoral por mais de 100 países do mundo ( um bloqueio por terra, céu e mar, que impede que cheguem a Gaza produtos alimentícios, hospitalares, anestesias, material de higiene, enfim, itens essenciais para a sobrevivência humana) , a vereadora evangélica Lorena Brandão (PSC), da Bahia, decide homenagear o Estado de Israel e manda retirar da Casa do Povo, com extrema violência policial, uma advogada palestina que pedira a palavra para explicar o que acontece na Palestina nesse momento.
Em Gaza, o bombardeio de Israel na última semana já deixou 27 mortos, incluindo três mulheres – uma delas grávida – e dois bebês. O ataque, que deixou 130 feridos e um centro cultural e uma biblioteca com diversos documentos históricos e vários edifícios destruídos, foi condenado pela comunidade internacional.
Não caberiam homenagens do Brasil no momento a um Estado condenado pela ONU pelo assassinato de bebês palestinos , pela morte de milhares de jovens nos últimos anos, pela morte de mulheres grávidas e por inúmeras violações dos Direitos Humanos dos palestinos que ali vivem.
Mas em Salvador, nesta terça-feira, uma vereadora evangélica parabenizou o embaixador de Israel no Brasil e vinculou a presença da advogada, mulher e ativista palestina Nádia Hussein ao " terrorismo palestino".
A advogada Nádia Hussein estava completamente desarmada, usando a echarpe simbólica de solidariedade à Palestina, apenas pedindo a palavra e recebendo o apoio de outros vereadores da Casa, como Marcos Mendes.
A única violência testemunhada por todos os presentes foi a violência utilizada pela vereadora e pelos seguranças acionados por ela naquele momento.
A vereadora cometeu claramente os crimes de xenofobia e intolerância religiosa.
A que ponto de barbárie e desrespeito pela voz do outro nós chegamos?
É estarrecedor constatar a brutalidade das cenas gravadas pelas pessoas presentes.
Em que nós estamos nos transformando como nação?
Meu Deus.
Expresso aqui, como cristã e jornalista, minha imensa solidariedade a todas as mulheres palestinas e à advogada palestina Nádia Hussein.
Perdoe-nos, Nádia, pelo país intolerante em que nós nos transformamos.
Lúcia Helena Issa: Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília". Pós- graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma e embaixadora da Paz por uma organização internacional. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio.
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