União Europeia deveria denunciar o colonialismo israelense por sua incitação e violência
Livros escolares palestinos estão novamente sob escrutínio público, dessa vez após um relatório publicado pelo Instituto Israelense de Monitoramento da Paz e da Tolerância Cultural no Ensino Escolar (IMPACT-se, da sigla em inglês) alegar que o material era “mais radical do que publicado previamente”. A União Europeia (UE) desde então confirmou que financiará a avaliação executada “por um instituto de pesquisa independente reconhecido internacionalmente
De acordo com o IMPACT-se: “Este novo currículo deliberadamente omite qualquer tópico escolar de discussão de paz ou referência à presença judaica na Palestina antes de 1948.” Federica Mogherini, Representante de Relações Exteriores da União Europeia, afirmou que o estudo identificará “possíveis atos de incitação ao ódio e à violência e qualquer possível descumprimento dos padrões da UNESCO de paz e tolerância na educação.”
Mais uma vez, os palestinos são coagidos a adotar padrões determinados por agentes políticos que normalizaram a presença colonial de Israel na Palestina. A questão não é se há alguma referência à presença judaica na Palestina, mas porque há tamanha oposição concentrada à preservação de sua própria história e identidade por parte dos palestinos, ambas massacradas pelas forças de Israel durante a Nakba, ainda vigente.
Que ninguém esqueça, a comunidade internacional como um todo tem, de uma forma ou de outra, apoiado a narrativa sionista relativa à Palestina. Esta narrativa não deixa espaço para que os palestinos asseverem sua presença nativa na Palestina antes de 1948; o mito de “terra sem povo para um povo sem terra” e suas subsequentes variações foram utilizadas pelos sionistas para justificar sua intenção de colonizar a Palestina, assim como para implementar seu projeto. É a narrativa sionista que eliminou os palestinos. Ao escapar dessa premissa, torna-se claro que os palestinos possuem uma obrigação em relação ao seu próprio povo, à sua história e memória, caso desejem lutar contra o desaparecimento absoluto de sua própria identidade como um povo distinto sob opressão israelense, esta, por sua vez, sob apoio da comunidade internacional.
É imperativo que os palestinos estabeleçam sua própria agenda de acordo com seus próprios padrões. Israel tem feito dessa forma, em violação flagrante aos direitos humanos, e suas ações agora são normalizadas por “preocupações de segurança” e “autodefesa” pela comunidade internacional. Os palestinos têm razões legítimas para ir no encalço de sua própria trajetória de libertação – um direito garantido pela lei internacional – embora tenham que aguardar constantemente pela aplicação de normas internacionais que ignoram os detalhes da violência e da expansão colonial contínua de Israel.
A UNESCO descreve educação para a paz como “promover a construção de paz através do ensino em situação tanto de conflito quanto de paz.” A terminologia utilizada é ideal para a comunidade internacional, a qual passou décadas reinventando o colonialismo israelense na palestina como o “conflito israelo-palestino” que pode ser supostamente resolvido através de “negociações de paz”. Não poderia haver melhor combinação para a UE promover sua diplomacia. O estímulo da UNESCO de discurso normalizado para alterar as possibilidades do ensino é uma agenda agressiva contra os palestinos e uma oportunidade para a União Europeia apresentar-se como um mediador ativo das normas internacionais.
Dado que não há qualquer crítica coletiva a tais normas aceitas, qualquer ação que demonstre o mínimo toque de repúdio legítimo em favor de uma postura que claramente fala em nome do oprimido – neste caso, o povo palestino – receberá como resposta a continuidade do recrutamento europeu de indivíduos e instituições para reforçar o que é aceito internacionalmente. Os livros didáticos palestinos e seu conteúdo, no entanto, não surgiram do nada. A União Europeia não deveria financiar estudos que impedem os palestinos de asseverar seu direito à Palestina histórica em seu próprio currículo educacional. Ao contrário, deveria denunciar a presença de Israel na Palestina como uma forma permanente de incitação e violência colonial.
Por Ramona Wadi
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.
Fonte: Middle East Monitor
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